Há quem continue a ver na depreciação do dólar uma das causas do aumento dos preços do petróleo. Robert Reich, no artigo que transcrevi ontem do seu blog para o Aliás, aponta a debilidade da moeda norte-americana como um dos factores. Refere ainda outro: a especulação. Krugman, em artigo que também transcrevi para o Aliás, e de que podia ler-se uma versão mais elaborada no "El País" de Domingo último, tem opinião contrária e aponta à insuficiência da oferta a razão primordial do crescimento dos preços. Sem querer negar a participação da desvalorização do dólar e algum efeito especulativo no crescimento dos preços do crude, inclino-me mais para a posição de Krugman.
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Os produtores de petróleo (ou de qualquer outra commodity) aumentam os preços quando o mercado é vendedor, isto é, quando a procura supera a oferta. Os distribuidores de combustíveis, por seu turno, não precisam de acordar preços nas subidas porque basta-lhes seguir os que se antecipam. A desvalorização da moeda de facturação (nesta caso, o dolar) é, nestes casos, utilizada como argumento de justificação das subidas enquanto a situação de mercado vendedor o consentir. Evidentemente que quanto mais se enche o lago de petrodólares em consequência do aumento das cotações de crude mais se desvaloriza a divisa norte-americana. Se o mercado do crude invertesse a tendência, isto é, se as expectativas fizessem prever excessos de oferta relativamente à procura, os preços cairiam no mercado independentemente da cotação do dólar.
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A evolução dos preços do crude, disse-o alguns tempos atrás aqui no Aliás, descolaria da evolução da desvalorização do dólar. É o que se tem estado a observar nas últimas semanas.
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Um cenário ainda mais preocupante para quem paga as facturas do petróleo em euros que, já há algum tempo, também aqui referi.
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Ouvi esta tarde na rádio a intervenção de Louçã propondo a tributação extraordinária dos lucros das petrolíferas favorecidas pela actual conjuntura: a actualização dos preços com base na evolução dos preços do crude alarga-lhes crescentemente as margens conjunturalmente monopolistas. Se os monopólios devem ser desmantelados o que fazer quando a situação de mercado gera actuações de monopólio, ainda que não possam provar-se concertações de preços entre as empresas? A proposta de Louçã faz sentido.
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