Tuesday, July 30, 2024

TURISMO: UM PROBLEMA DE PROSTITUIÇÃO DA ECONOMIA?

pergunta de um economista nascido no ano da revolução de abril (ou golpe militar, à escolha do freguês). No mesmo ano em que o Prof Pereira de Moura, então, com 50 anos de idade, afirmava que o turismo era a prostituição da economia.
Entre a pergunta de Paes Mamede e a afirmação (talvez exagerada pela excitação da revolução) de Pereira de Moura) passaram-se cinquenta anos, a questão subsiste, cada vez mais candente: Quanto vale o turismo em Portugal?
Sobre este assunto anotei neste caderno de apontamentos, além do mais:  
Produtividade (vd última parte) 
 
Em Portugal, segundo as notícias, a região mais procurada pelos magotes de turistas acidentais é Lisboa e arredores de clichê. Uns chegam em cruzeiros, a maioria vem de avião. Lisboa é, agora, durante a maior parte do ano um arraial de gente cliente de restauração e dormida por tuta-e-meia e lugares para recordar em selfies de que não sabem nem querem saber o chão que pisam. Os que vão até Sintra, geralmente de comboio, sobem ao Palácio da Pena, tiram selfies, comem hamburgers, e voltam duas horas depois.
O Algarve é região preferida pelos turistas com carteira mais recheada, alguns gostam tanto que ficam para residentes.
É assim tão importante o turismo para os algarvios, desabituados pelo turismo de pensar em alternativas?
Parece que não. O Chega dominou nas últimas eleições legislativas, sinal evidente do seu desagrado. 

Mas não são apenas as regiões de Lisboa e Algarve que vivem embriagadas pelo turismo. 
A embriaguez é geral, mais grave nuns casos que noutros.

Há algum tempo, passou nos canais de televisão um programa (Redescobrir Veneza) sobre o descontentamento dos venezianos relativamente ao excesso de turistas que os obrigou, uns a retirarem-se para ilhas menos conhecidas na Laguna, outros, a grande maioria dos deslocalizados instalou-se em Mestre, a cerca de nove quilómetros de Veneza, e Veneza deixou de pertencer aos venezianos.
Asfixiada pelo turismo de massa e pela especulação imobiliária, Veneza perde quase mil venezianos todos os anos. O que é uma cidade sem os seus habitantes?
 - Qual o nosso interesse que esses paquetes de cruzeiros atravessassem os canais?- pergunta de um velho veneziano ao repórter incumbido de ouvir o que pensam aqueles que habitaram a cidade e dela foram escorraçados pela pressão dos interesses turísticos? Esses que chegam nos cruzeiros, desembarcam, vasculham cantos e recantos, comem e dormem nos paquetes deixando, quando muito, mais lixo nas ruas da velha cidade agora transformada em museu sem alma.
 
Tirei duas fotos, colocadas abaixo, a partir do referido programa, Redescobrir Veneza, que mostram, apesar da falta de qualidade resultante do facto de terem sido obtidas a partir de imagens em vídeo, do peso enorme, da afronta, da presença destas bisarmas flutuantes que poluem os mares, sobretudo os locais onde atracam, e onde os passageiros avançam para terra, como bárbaros à procura de despojos.

Hoje, fomos a Lisboa e, sem termos procurado, deparou-se-nos uma imagem que nos relembrou as obtidas a partir do programa sobre Veneza. 
Lisboa não é Veneza nem corre o risco de se tornar um museu aberto. Mas vai a caminho.
E o problema é que são poucos os que notam isso. 
 
O turismo é vital para o crescimento económico português?
Quem vive embriagado, parece, vê melhor o que vê ao perto. Escapam-lhe as médias e longas distâncias.
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com os meus agradecimentos ao contribuinte.
"Barcelona, Canárias, Amesterdão e Santorini são bons exemplos de locais onde o estado de antagonismo já foi atingido. As recentes manifestações, um pouco por toda a Espanha, vão mostrando (56 mil pessoas nas Canárias!) como um país pode chegar à “moléstia”, mesmo devendo ao turismo uma boa fatia do seu desenvolvimento económico, uma actividade que ainda representa cerca de 13% do seu PIB".
 
 
---act. 2/08 - Qual é o problema do excesso de turismo? (National Geographic)
                      Os turistas um dia ficam fartos?
 act. 18/08 - Lisboa prostituída
 
 
(clicar nas imagens para aumentar)
Há duas semanas tínhamos sido surpreendidos por estas.
 


 


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