Tuesday, July 09, 2024

O JOGO DA CABRA CEGA

Afinal ela fala!

A Procuradora-Geral de Justiça, Lucília Gago, afinal sabe falar.

Ontem, em entrevista da antena 1 da RTP, a senhora mostrou que fala como só uma jurista com suficiente traquejo tenta insistentemente conseguir fazer crer naquilo em que nem ela, muito provavelmente acredita:
 
Que não senhor, o Ministério Público não tem atuações opacas, nuns casos, estridentes noutros, fugas de informação sob segredo de justiça nem justificados nem investigados, escutas sem fim nem fins plausíveis, nada, tudo impecavelmente limpo na área da Justiça onde, desde há seis anos, é senhora que não deve explicações nem tem que pedir desculpas a ninguém. 

Após a entrevista, as opiniões dos fazedores de opiniões, com a expetável excepção das opiniões dos lados do professor Ventura, não pouparam críticas à PGR.
 
Hoje, lê-se aqui, "Deputados pedem explicações à PGR sobre campanha contra Ministério Público".
"Para dizer o que disse mais valia que se tivesse mantido calada", ouvi um comentador dizer esta manhã.
 
Não concordo.
Nas suas afirmações e contradições a PGR mostrou-se incomodada com o que disse a Ministra, Júdice, da Justiça, acerca da desarrumação da casa do MP, entre outras incomodidades para a PGR, que tinha tido reunião de três horas com a Ministra sem que a Ministra tivesse, além do mais, abordado a questão do desarrumo; com a liberalidade do PR, em meio descontraído, ter considerado maquiavélica a coincidência da data (7 de novembro) de publicação do parágrafo que motivou a saída do primeiro-ministro, e a reabertura do processo das gémeas brasileiras; com a insistência no parágrafo (do qual ela se assume responsável) como motivação de uma demissão, segundo ela, injustificável, considerando outros casos semelhantes.
A manifestação de incómodo da PGR, sendo possivelmente fracturante pode ser motivante da tantas vezes reclamada reforma da Justiça.

Porque por um facto a PGR, e o MP, poderão invocar razão de queixa contra a "campanha de orquestração" que, finalmente, fez falar Lucília Gago: os poderes políticos e legislativos são os primeiros e principais responsáveis pela forma do enquadramento legal em que os procuradores se têm podido mover. 
Vão, finalmente, alterar-se as circunstâncias a partir do momento em que a actual PGR se reformar?
Veremos. 
Cabe ao governo e aos deputados mudar o que tem de ser mudado.

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