Friday, January 23, 2015

O QUE É QUE OS BANCOS VÃO FAZER COM O QE

Falou-se dos possíveis benefícios para a economia portuguesa resultantes da política anunciada ontem por Draghi de compra de dívida pública pelo BCE (até 20% do total adquirido em cada estado membro da zona euro) e pelos bancos centrais (até 80%). E também naquele reduzido grupo de gente minimamente informada sobre estes assuntos foram evidentes diferentes pontos de vista que, no entanto, conduzem no essencial a  duas hipóteses:

Ou os bancos encontram colocação para a liquidez libertada com a venda de parte ou da totalidade da dívida pública que detêm, ou não. Se a anemia económica é de tal modo elevada que não suscita vantagens na troca de activos (dívida pública por dívida privada) considerando os níveis de risco, as taxas de juro e as maturidades das obrigações de dívida pública vis-a-vis os riscos, as taxas e os vencimentos dos empréstimos às empresas e às famílias, a bomba ficou ferrada mas o fluxo não se inicia. 

Evidentemente, a equação é  muito mais complexa porque, por exemplo, os bancos, incluindo a Caixa Geral de Depósitos que tem por instinto seguir o rebanho, poderão continuar a preferir financiar, como sempre têm feito, as grandes empresas, sobretudo os monopólios de facto, em áreas de negócios de bens ou serviços não transaccionáveis, preterindo os sectores transaccionáveis onde o risco é geralmente mais elevado. Neste caso, vendem dívida pública e reforçam as suas posições nos sectores privados de baixo risco ou, mais grave ainda, no financiamento de aplicações especulativas.

Em conclusão : O QE ajuda?
Ajuda, mas só QE não chega.


2 comments:

Luciano Machado said...

Rui
Um ponto em que todos estão de acordo é que a QE só por si não é suficiente. O próprio Draghi a isso explicitamente refere "in order to increase investment activity, boost job creation and raise productivity growth, other policy areas need to contribute decively. In particular, the determined implementation of poduct and labour market reforms....Fiscal policies should support the economic recovery, while ensuring debt sustainability in compliance with the Stability and Growth Pact, which remains the anchor for confidence. All countries should use the available scope for a more growth-friendly composition of fiscal policies...."
É claro que aqui entram as questões ideológicas: A direita clama por mais reformas estruturais para acelerar a eficiência dos mercados; a esquerda apela ao investimento público como alavanca fundamental para o crescimento.
Para já o primeiro passo está dado e as consequências serão um aquecimento da economia e o acentuar da tendência para a desvalorização do euro.
Como é que Portugal vai entrar no comboio é a dúvida que se põe. Para já deverá sentir uma baixa na factura a pagar de juros o que poderá permitir um alívio fiscal que proporcione um maior optimismo dos agentes económicos quer do lado da procura quer do da oferta. Isso, conjugado com o preço baixo do petróleo, cria um cenário favorável ao investimento e ao crescimento. Acreditemos que sim. Um abraço

Rui Fonseca said...

Muito obrigado, Luciano, pelo teu claro e esclarecido contributo.

Abç