Sunday, January 04, 2015

AFINAL, O EURO

Para muita gente supostamente respeitável por aquilo que afirma, o euro é uma construção insustentável, que não resistirá às crises inerentes aos inevitáveis ciclos económicos. Pode a resiliência demonstrada pela moeda única europeia em 2014 considerar-se um dos eventos que mais marcou o ano passado,  tendo em conta que foram muitos os que lhe previram o fim? Aqui, considera-se que sim - Ainda houve quem apostasse no seu fim no início do ano, mas agora para 2015 isso parece ter desaparecido.
Mas terá desaparecido mesmo?

2015 promete ser um ano politicamente muito complicado na União Europeia, com eleições legislativas na Grécia, dentro de duas semanas, Reino Unido, Espanha, Portugal e Itália, num contexto de generalizada progressão dos movimentos mais radicais. De direita, sobretudo a norte, mobilizados por reivindicações anti-imigração, que facilmente descambam para acções xenófobas e racistas. De esquerda, a sul, mobilizados pelo descontentamento que as políticas de austeridade geraram e continuam a gerar, porque o crescimento económico estagnou, e as dívidas soberanas continuam a crescer. 

Culpa do euro?
Anteontem, Paul Krugman comentava aqui um artigo de Simon Wren-Lewis, um economista britânico - How good has the UK recovery been? - resumindo neste gráfico,

as consequências das políticas de austeridade adoptadas na Europa vis-a-vis a evolução observada nos EUA. Notável é ainda o comportamento da economia francesa, que é parte da zona euro, avaliada em termos de PIB/capita relativamente à britânica, que não abdicou da sua libra.

Eis o triunfo da austeridade, ou talvez não, comenta Krugman
E continua: (cito, resumindo)

"O sucesso da economia reclamado pelo governo britânico durante os últimos um ou dois anos é uma falácia porque ignora o mau comportamento no período anterior. ... Por outro lado, atribui-se geralmente à dimensão do estado social em França a causa da estagnação da economia francesa. E à austeridade no Reino Unido é atribuido o sucesso da sua economia nos últimos tempos"

Tudo isto é deprimente, remata Krugman, desde o início da crise um crítico tenaz das políticas de austeridade adoptadas na Europa. 
Receio que continue a ter razão.

5 comments:

Anonymous said...

Talvez ache graça ler "A máquina do tempo" em www.manuel2.com onde se fala do Autumn Statement de George Osborne e das suas trapalhadas.
manuel.m

Anonymous said...

Fui ver.
É um apontamento excelente.
Recomendo a visita.

Pinho Cardão said...

Krugman esteve aí há uns dois anos em Portugal e começou por criticar a austeridade e a Troyca. Após as reuniões e almoços que teve com as autoridades portuguesas, inflectiu a opinião e acabou por afirmar alto e bom som que não havia alternativa, dadas as condições de facto.
O homem vive na América, é um acadêmico daqueles que pensam que a sua teoria está certa e que a realidade está errada e tem que se adequar à teoria.
Claro que um keynesianismo sem olhar a circunstâncias ainda motiva muita gente, até prémios Nobel, mas não se dão conta de que a teoria não é aplicável em países muito endividados, com défices públicos elevados e balanças deficitárias. Isso seria como tomar veneno .
Enfim, defeito meu, poucas vezes consigo concordar com Krugman.

Rui Fonseca said...

António,

Obrigado pelo teu comentário.

Ao meu muito estimado Amigo não deve ter passado despercebido que o apontamento de Krugman se suporta num outro de um economista britânico.

Tudo gente suspeita de Keynesianismo serôdio? Admitamos que sim.

O facto é que a União Europeia se encontra numa embrulhada da qual parece não conseguir sair. E não se trata de uma embrulhada económica e financeira mas, e aí é que o embrulho é perigosíssimo, no crescendo dos movimentos extremistas que colocarão em causa a sobrevivência da UE e até a própria democracia.

Depois, nunca se sabe o que se segue.

No discurso de Ano Novo, Merkel atacou os ultras de direita, racistas, xenófobos, anti-imigração.
Depois embeveceu-se com o défice zero previsto no Orçamento alemão para este ano.

É assim que a União Europeia vai sair da embrulhada em que está metida?

Há países excessivamente endividados, pois há. Mas como é possível desatascarem-se se o crescimento é nulo ou negativo até?

Não venero Krugman, aliás não sou venerador de ninguém. Mas faço os possíveis por estar atento ao que por aí vai e o que se diz.

Anonymous said...

Muito obrigado pelas suas amáveis e generosas palavras.Considero-as um incentive para ir continuando com a "Gazeta". Resta dizer que estou ao seu dispor,aqui neste canto do Middlesex, para o que entender.
Cordiais Saudações
manuel.m