Monday, July 15, 2013

SALOMÃO E O PROFESSOR MARCELO

Alguém,  um dia,  disse que o professor Marcelo sabia de tudo mas não sabia mais nada. E a laracha tem vindo ao longo dos anos a mostrar-se uma pérola de vaticínio certeiro. Com efeito, Marcelo é um campeão holístico, capaz de reunir e relacionar todo o saber deste mundo e do outro. Mas não passa disso. As suas intervenções televisivas são, geralmente, lições aos políticos que ele, Marcelo, desistiu de ser depois de alguns revezes mal encaixados, cumprindo a sentença de quem sabe fazer, faz, quem não sabe, ensina.
 
Mas tem muitos fiéis e atentos espectadores e, faltaria à verdade se dissesse que não o ouço sempre que esteja em casa ao domingo à noite. Hoje Marcelo falou da comunicação do PR, que considerou uma boa ideia em teoria mas estragada na prática. A ouvi-lo perorar esta contradição nos termos - qualquer teoria só é válida se vingar no confronto com a prática -, percebi-lhe alguma instabilidade no discurso, pouco habitual nele. 
 
Polémico quanto baste, Marcelo é normalmente muito seguro nas afirmações que faz. Foi, portanto, com muita estranheza que o ouvi ontem citar o rei Salomão para contar, erradamente, a história das duas mulheres que se reclamavam mãe de uma criança. Segundo Marcelo, Salomão teria decidido cortar a criança ao meio dando metade a cada uma. A versão é outra e exemplar da lendária sabedoria do rei Salomão que entregou a criança à mulher que disse preferir ver o seu filho entregue à outra mulher a vê-lo cortado ao meio.  
 
A história vinha a propósito da decisão do PR que, com a intenção de ser equidistante nas condições postas para a negociação do acordo de salvação nacional, terá matado qualquer possibilidade de acordo ao fixar uma data para eleições antecipadas. Ora é muito óbvio que se CS não tivesse fixado esse assunto na discussão do compromisso que pediu ao trio, o PS, que vem reclamando há já algum tempo eleições antecipadas, a curto prazo, ter-se-ia, liminarmente, oposto a negociar sem que sobre esse ponto houvesse um acordo prévio. CS amarrou o PSD a um dos pilares do acordo entregando aos partidos as condições de negociação do que é essencial e urgente: uma política conjunta de relacionamento com a troica extensível ao período subsequente no relacionamento com a UE e o BCE. O PS já aceitou esse pilar; PSD e CDS não têm nenhuma vantagem em recusá-lo a não ser para uso como moeda de troca durante as negociações.

Percebe-se mal que, sendo Marcelo o génio que dizem ser, tenha contado da história que tornou a sabedoria justiceira de Salomão lendária uma versão absurda. Tão absurda quanto os fundamentos da  sua opinião quanto à realização de eleições antecipadas no próximo ano.

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Correl. - Marcelo nas última semanas só vê porcos a andarem de bicicleta em Portugal

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