Tuesday, July 30, 2013

OS SWAP E A LEI DE MURPHY

"Se alguma coisa pode dar errado, ela dará".
Se alguém sai da fila e passa para a fila ao lado que naquele momento está a fluir melhor geralmente depressa verá a fila de onde saiu a avançar mais rapidamente.
 
"Entende, ( ), como este festival pode apenas ser uma questiúncula de contabilidade?" - aqui
Não, não entendo. A contabilidade pode ser manipulada mas não altera a realidade, quanto muito pode disfarçá-la. Temporariamente. Foi por não ter em atenção a temporalidade do disfarce das desorçamentações que o governo anterior mandou realizar estes contratos de swap a quem não deveria ter sido dada capacidade para os fazer.
 
Por outro lado, e é essa a questão que verdadeiramente interessa, um swap de preço, no caso de combustíveis, é, como qualquer swap uma opção, o que implica uma aposta. E uma aposta envolve sempre um risco, ainda que haja umas apostas mais arriscadas que outras.
 
No caso que citou, do aprovisionamento de combustíveis por uma empresa transportadora, uma opção de preço ou de câmbio, não deixa de ser um risco. Pode ganhar ou pode perder. Se ganhar, parabéns. Se perder fica fora do mercado na parte respeitante a este factor de custo, independentemente da evolução dos preços dos transportes.
 
Então uma operação de swap de taxa de juro, por exemplo, nunca se justifica?
Justifica, sim senhor. Em duas situções: 1 - Se as actividades core business do tomador do swap permitem fazer o hedging do swap. 2- Se o financiamento sobre o qual se realiza um swap se destina a um investimento de recuperação a longo prazo. Neste caso, a taxa de juro fixo "contratada" não deve exceder aquela que torna viável o projecto a que o financiamento se destina.
 
Já agora repito aqui uma história verídica que há algum tempo contei aqui no 4R ao APC. Um dia propuz a um cliente japonês a facturação em yenes. Por razões que não vêm ao caso, aquele cliente era o único que reunia as condições para podermos efectuar um contrato anual, muito vantajoso para nós, de vários milhões de dólares. No sector, a moeda de facturação era, e ainda é, o dólar, e são poucas as transacções internacionais feitas noutra moeda.
 
O sr. Kochiyama, assim se chamava o comprador da segunda maior empresa japonesa do sector, que dirigia, e ainda dirige, a maior parte da sua produção para o mercado interno, pensou não mais que dois minutos sobre o assunto, depois sorriu e disse-me: Rui, agradeço-te a tua sugestão mas não posso aceitá-la. E não possa aceitá-la porque, como sabes, toda a gente neste mercado compra a matéria prima em dólares. Imagina qu eu te compro em yenes. Se o yen se desvaloriza relativamente ao dólar, faço um bom negócio, dar-me-ão os parabens e talvez um bónus no fim do ano. Mas se o yen se valoriza? Fico fora do mercado. O preço do produto final fica mais caro, toda a gente me acusará e posso até ser despedido.*/**
 
Percebeu? Eu percebi. Percebi que só um patrão pode livremente jogar com o dinheiro dele. E ninguém deve ter capacidade para poder jogar com o  dinheiro dos contribuintes. E muito menos os gestores de empresas públicas, geralmente comissários políticos sem  competência mínima para gerir as actividades específicas das empresas quanto mais para lidarem com banqueiros matreiros.

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* Esta é uma das razões, se não a mais determinante, que justificam a persistente predominância do dólar como a principal moeda das transacções internacionais de commodities, de que o crude é o exemplo mais notável.
** Evidentemente, o vendedor tem, nestes casos, a possibilidade de anular o seu risco de câmbio vendendo imediatamente o contrato ao câmbio do dia da moeda em que contabiliza os seus débitos.

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