Friday, November 09, 2012

ACERCA DA QUESTÃO DO BIFE

Sou suspeito. Não me recordo da última vez que comi um bife. Mas não sou vegetariano.
 
Vem isto a propósito do alvoroço provocado por declarações (vd aqui) da srª. Isabel Jonet em conversa com a srª. Manuela Ferreira Leite e o sr. Rui Vilar. Curiosamente. Do que disseram os três, só as palavras da primeira mereceram a crítica generalizada dos comentadores da praça, talvez porque só ela disse o que ninguém diz e os outros dois, ou se repetiram ou repetiram o que outros já disseram. E mesmo daquilo que disse Jonet foi a parte final da sua intervenção - quando falou do bife - que fez saltar a tampa a quem não conhece as estatísticas.
 
É verdade que não se atina com o reequilíbrio da balança comercial dizendo aos portugueses para mudarem de hábitos. As mudanças comportamentais, sobretudo quando são percepcionadas como um retrocesso, são duras de roer. O reequilíbrio das contas externas pressupõe políticas indutoras de mais poupança e mais investimento, que, inevitavelmente se repercutem em opções de consumo e, provavelmente, do consumo de bifes.
 
Mas o que a srª. Isabel Jonet disse tem fundamento. Portugal, é fortemente dependente da importação de cereais, além do mais, porque a sua área com vocação pastorícia bovina é muito reduzida, mas os portugueses são grandes consumidores de bife. Duvida?  Veja aqui, e não se esqueça de ver também aqui. Pois é. Um país que não tem condições para a criação de bife não o vai dispensar só porque a srª. disse o que disse. Apesar de ser verdade o que ela disse e de estar a ser ameaçada com petições emotivas de quem ainda não percebeu a situação em que o país vive.

O tema, aliás, dá pano para muitas mais mangas.
Por exemplo: No Brasil (vd aqui) onde as condições naturais para a criação de bovinos são das melhores do mundo, a produção de 1 quilo de carne pressupõe a emissão de 335 quilos de dióxido de carbono, equivalente às emissões de um carro num percurso de 1600 quilómetros. Na Holanda, a equivalência fica-se pelos 111 quilómetros. Por outro lado, a transformação de proteína vegetal em proteína animal implica uma redução de 4 quilos de proteínas em rações para animais para produzir apenas 1 quilo de carne. A produção de carne tem um custo energético 14,7 vezes superior ao da produção de vegetais. Deste modo, um quilo de carne de vitela é comparável a 100 quilos de batata em valor energético.

Não nos iludamos. Se até agora não demos por ela foi porque nos fizeram crer que havia bifes para todos . Mas não há.

2 comments:

Freire de Andrade said...

Gostei da sua mensagem e agradeço as ligações para os dados de consumo de carne que são muito explícitos. Apropósito do tema dos bifes e das declarações de Isabel Jonet, disse no meu blog "Será que os anjos têm sexo?":
Fiquei espantado com as reacções da esquerda às declarações de Isabel Jonet na entrevista que deu à SIC. Seguramente é por ingenuidade minha. Vi a entrevista e pensei que o que IJ tinha dito fazia sentido. Posso mesmo acrescentar que subiu na minha consideração. Murmurei até: "Haja quem diga umas verdades!" Afinal há quem a considere "uma gaja nojenta", a acuse de "achar necessário empobrecer os portugueses" e de ter "intenções... terroristas e disfarçadas de solidariedade" (num comentário a esta mensagem do blog Corta-Fitas). Este é só um exemplo extremo das reacções e acusações de que IJ tem sido alvo. Até se chegou ao disparate de propor um boicote ao Banco Alimentar! Afinal porquê? Por ter dito que os portugueses vão empobrecer? Por ser de opinião que em Portugal não existe miséria (como a que viu na Grécia)? Repare-se que não disse que não existe pobreza. Miséria e pobreza não são sinónimos. Por ter dito que não se pode comer bifes todos os dias? Já uma vez expressei a minha opinião que não há um real empobrecimento dos portugueses; já éramos pobres, só que, como vivíamos à custa de dinheiro emprestado, não dávamos por isso. E será um direito adquirido comer bifes todos os dias que não pode ser discutido?

rui fonseca said...

"Já uma vez expressei a minha opinião que não há um real empobrecimento dos portugueses; já éramos pobres, só que, como vivíamos à custa de dinheiro emprestado,..."

É por demais evidente.