Monday, November 26, 2012

DÁ DEUS DENTES A QUEM NÃO TEM NOZES

Isabel Jonet escandalizou mais de meio Portugal quando há dias disse algumas verdades. De entre elas, a mais badalada foi o consumo excessivo de bife. A essa questão já me referi aqui. E, até prova em contrário, a verdade é que as estatísticas colocam os portugueses como razoáveis consumidores de um produto para o qual não dispõem de condições favoráveis de produções locais. Mas há mais.
 
Quem olha para a origem dos produtos à venda nos supermercados pode constatar que, ainda hoje, quando a crise apoquenta quase toda a gente, os portugueses não dispensam o consumo de alguns produtos que noutros países com a balança comercial mais equilibrada têm a sua venda restringida  a espaços comerciais autorizados exclusivamente à sua comercialização. Por esta altura do ano, multiplica-se nos supermercados portugueses o stock de bebidas importadas de alto teor alcoólico, geralmente elevado tendo em conta o espaço dedicado a outras bebidas de custo incomparavelmente inferior.
 
Não por acaso, as estatísticas anualmente publicadas  pela Organização Mundial de Saúde, que de vez em quando aponto neste caderno, colocam Portugal - vd aqui - entre os maiores bebedores de alcool do mundo. Trata-se, obviamente, de uma questão que, mais do que as incidências na balança comercial, contam os efeitos negativos de um hábito que não é suficientemente denunciado nem combatido. Entre as consequências dramáticas do abuso do alcool está a elevada mortalidade juvenil observada em Portugal.  
 
No supermercado onde hoje fizemos compras, havia, apesar do anunciado apoio no local à produção nacional, entre muitos outros items, só na área de alimentação,   batatas de Espanha e França, cebolas de Espanha, chuchus da Costa Rica (por que é que se importam chuchus quando a sua produção é tão pouco exigente e viável em Portugal, é um dos mistérios comezinhos para o qual não encontro resposta), feijão verde de Marrocos, ... nozes dos Estados Unidos da América!
 
 
Tal como os bancos, os supermercados parecem desconhecer que a economia é uma activiade de trocas e que só pode trocar quem produz valor equivalente. Inevitavelmente, um dia, se não mudarem de atitude, estabelecendo parcerias win-win com os vizinhos, terão cada vez menos consumidores, incluindo os bebedores de spirits. 

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