Thursday, June 07, 2012

PARA INGLÊS OUVIR


Merkel insiste numa Europa a várias velocidades, é o titulo de um artigo do FT de hoje, a propósito da ida do PM britânico a  Berlim.

Antecipando uma resposta a Cameron, que insiste na adopção de medidas de curto prazo para combater a crise, a chanceler alemã afirmou ontem que "as nações membros de uma união monetária têm de avançar em conjunto" reforçando, deste modo, a tendência para uma "Europa a várias velocidades" iniciada com a introdução da moeda única.

Acrescentou Merkel: "Nós não podemos parar este (processo de integração) apenas por que um ou outro membro não quer juntar-se a ele", para realçar a contradição, do ponto de vista de Berlim, entre a recusa do Reino Unido assinar as regras de controlo orçamental da UE e as pretensões de Cameron para solucionar a crise, uma posição que irritou muita gente na capital alemã, segundo o jornalista do FT.  

Com a Espanha a esforçar-se por recapitalizar os seus bancos e as dúvidas das reformas gregas, Cameron fez saber ontem que iria pressionar Merkel a retirar a zona euro da beira do desastre adoptando medidas de emergência, incluindo a emissão conjunta de eurobonds, que os alemães repetidamente têm considerado desnecessárias porque adiariam a integração fiscal. O ministro das finanças britânico, por outro lado, tinha no dia anterior afirmado que os bancos espanhóis deveriam ter acesso directo ao fundo de resgate da zona euro. De momento, a recapitalização dos bancos com fundos de resgate passa obrigatoriamente pelos estados.
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Em resposta à pressão de Obama em idêntico sentido, Merkel apareceu pela primeira vez na televisão depois de uma ausência de algumas semanas para reafirmar o seu compromisso de convencer os outros membros da zona euro de ceder alguns poderes orçamentais a Bruxelas. "Necessitamos de mais Europa. Nós não necessitamos apenas de uma  união monetária, necessitamos também de uma união fiscal ... e, sobretudo, precisamos de uma união política, que significa que gradualmente se transfiram poderes para a Europa e dar à Europa poder de control"
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O governo alemão acredita que somente um mapa definindo claramente um caminho para uma integração da zona euro poderá definitivamente restabelecer a confiança dos investidores. Para isso espera que Rompuy, presidente do Conselho Europeu, apresente sugestões para a união bancária na próxima cimeira no fim deste mês de Junho e outras propostas em Dezembro. 

As reacções a estas propostas de Merkel começaram já, e a Holanda, geralmente um incondicional aliado da Alemanha, questionou Merkel  pela sua proposta integração de uns membros mais rapidamente que outros. No próximo Outono há eleições na Holanda, e os partidos dos extremos, à direita e à esquerda, rejeitam maior integração política na UE, colocando o governo na defensiva relativamente à transferência de poderes para Bruxelas.
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Merkel, entretanto, conseguiu que uma maioria formada pelo seu partido e os sociais democratas aprovassem no Parlamento o novo Mecanismo Europeu de Estabilidade e o pacto orçamental, assim como uma taxa sobre as operações financeiras (FTT) que  esperam venham a ser adoptadas por outros membros da zona euro.  Esta medida poderá abrir caminho para a ratificação do pacto fiscal e do ESM no fim de Junho.

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Em resumo: depois do lance de Draghi, que reclamou a  centralização da supervisão bancária e das garantias dos depósitos (vid aqui), Merkel faz o seu: diz a Cameron que o Reino Unido saiu, por sua vontade, do caminho comum, e, portanto, deixou há muito de ter voto na matéria, e é ela que lidera o projecto e define os passos a dar.

Quem a vai seguir, não sabemos, mas podemos prever com grande probabilidade de acertar que, desta vez, uma evolução significativa na Europa tem de acontecer.

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