Friday, February 10, 2012

TOLERÂNCIA DO INTOLERÁVEL


Sou suspeito.
Não gosto da Caixa Geral de Depósitos por razões antigas que, espero, um dia destes ter a pachorra suficiente para rememorar aqui.  
Não gosto da Caixa também pela untuosidade do edifício que Arsénio Cordeiro concebeu à imagem do palácio de Ceausescu, num tempo, estava-se em 1981, era primeiro-ministro Pinto Balsemão, em que uma tal decisão veio a redundar numa obra faraónica num país insolvente - dois anos depois negociava-se o primeiro acordo com o FMI. A construção da enormidade foi iniciada em finais de 1987.
André Cordeiro, reconheça-se, conseguiu traduzir naquela estupidez de cimento armado a essência de uma instituição enormemente irresponsável. 


- Porquê?
- Ora, porquê, porque teve  de contabilizar imparidades: dos empréstimos feitos ao Berardo e a outros compinhas, garantidos pelas acções do BCP que agora estão abaixo de tostão.
- Tinham os administradores da Caixa permissão para fazer isto?
- Não só tinham como, muito provavelmente, foram persuadidos, digamos assim, a fazê-lo.
- Persuadidos por quem?
- Ora por quem. Pelo poder político da altura. Não?
- Hum! E por que razão não executa a Caixa as garantias se os empréstimos não foram pagos?
- Francamente, em que mundo vives? A Caixa, e os outros bancos, executam as garantias dadas por quem comprou habitação e caiu no desemprego, por exemplo. A caça grossa dorme com eles.
Ontem recebiam ordens do outro governo, agora recebem deste. 
- E sempre bem pagos ...
- E sempre excepcionalmente bem pagos. Excepcionalmente, porque estão numa actividade concorrencial. Dizem.
- O pagode põe o dinheiro na Caixa porque sempre pôs, porque a Caixa tem caderneta, porque a Caixa é do Estado, a Caixa é segura, a Caixa não vai à bancarrota, e a Caixa empresta a massa para fins especulativos, aceita as acções como garantia aos preços da altura, as cotações vão à viola, os empréstimos não são pagos, a Caixa regista prejuízos, pede ao Estado reforço de capitais para recompor os rácios, e o pagode paga as contas todas porque, carago!, o Estado somos nós.
- Nem todos. 

Ao mesmo tempo que acontecem coisas destas e outras parecidas, o assunto do dia continua a ser a intolerância de ponto na terça-feira de Carnaval.   

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