Sunday, February 05, 2012

QUEM NÃO SABE, ENSINA

"A bolsa não é um jogo de casino. Ganhar dinheiro no mercado de capitais não é uma questão de sorte mas sim de conhecimento.", lê-se no Expresso/Economia de ontem.
José Neves Adelino, professor de finanças da Universidade Nova de Lisboa, deve ser um homem muito rico. Disse ele, num almoço no PABE com outros comensais ilustres, que "a literacia financeira em Portugal é muito baixa e uma iniciativa como o GIC (Global Investment Challenge) leva as pessoas a perceberem o mundo em que vivem."  Segundo a notícia, o professor deixou também alguns conselhos aos participantes do GIC  e a quem investe na bolsa.

Neves Adelino é tido como um respeitável professor de finanças mas não são conhecidos sucessos seus na bolsa que o tenham tornado o George Soros português. Aliás, Neves Adelino, como tantos outros que ganham a vida a prescrever receitas para o sucesso, continua como prescritor porque é incapaz de concretizar em proveito próprio os conselhos que distribui aos outros. 

É preciso ter muito cuidado com analistas e assessores financeiros. É por demais evidente que o que eles dizem ou são palpites ou sugestões requentadas. Se o sucesso na bolsa dependesse sobretudo do "conhecimento dos mecanismos da bolsa, de informações sobre as empresas*, sectores e economia e fazer escolhas ponderadas e não do instinto", analistas e assessores financeiros não seriam isso mas multimilionários ocupados exclusivamente com a gestão dos seus portfólios, e mandavam o resto às urtigas.

Antes da era "internet", da facilidade do copy/paste, coleccionava uma ou outra fotocópia de artigos publicados com o objectivo de lhe testar mais tarde a perdurabilidade da consistência dos conteúdos.  
Há dias, andava à procura de uns papeis e tropecei num desses artigos fotocopiados há uns anos atrás.

Foi publicado a 6/9/1999 no Diário Económico e intitulava-se "Vem aí a década de ouro das acções europeias. A próxima década vai ser de ouro para as acções europeias, depois de nos anos 80 terem sido os asiáticos a brilhar e, nos anos 90, os Estados Unidos terem desempenhado esse papel".

O autor, Mark Howdle, era, na altura, economista sénior da Schroder Solomon Smith Barney, tinha produzido uma projecção para a evolução dos mercados nos primeiros dez anos do milénio mas realçava que a futurologia é marcadamente um jogo de sorte e azar, e por isso é que muita gente se afasta desse exercício.

Mark Howdle abandonou o cargo de responsável pela estratégia do Citigroup para a Europa em 2002, segundo notícia que agora encontrei aqui, e voltou como professor à Universidade de Cambridge, onde se tinha doutorado.

Quem sabe fazer, faz. Mark Howdle preferiu voltar a ensinar.
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* Admito que não inclui o conhecimento por "insider trading" 

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