Sunday, March 13, 2011

AQUI, ENTRE NÓS

- Tudo bem convosco? Por onde é que anda a tua gente?
- Tudo bem. A C., como sabes, continua em Paris, a M. está em Lisboa.
- Então vens a Lisboa este fim-de-semana?
- Não posso. Para a semana não haverá gasolina nos postos de abastecimento. Estão os camionistas em greve.
- Vem de comboio. Por que é que não vens de comboio?
- Vão estar em greve os maquinistas. O Cavaco incitou às manifestações de rua, aí as tens. O discurso dele foi uma vergonha, sobretudo na segunda parte.
- Parece-me que exageras. As ameaças dos transportadores rodoviários e as greves dos maquinistas da CP têm alguma coisa a ver com o discurso? 
- Tudo tem a ver com tudo. Ao incitar a juventude a manifestar-se juntou-se ao desfile...e incentivou os outros.
- É uma leitura. Pode ter outras. Não foi a primeira vez nem a segunda que CS tomou a juventude como um dos temas centrais dos seus dircursos. Mas concordo que a coincidência de agora não foi brilhante. Quando a responsabilizá-lo pelas greves dos rodoviários e dos ferroviários parece-me exagero da tua parte.
- Só não percebo é porque é que ele fez o discurso que fez e não demitiu o Sócrates.
- Porque não é a altura própria. Na situação em que o país se encontra ninguém, responsavelmente, e o Presidente menos que ninguém, pode precipitar uma crise que coloque o país numa situação de completa ingovernabilidade. Mas Sócrates, face aquele discurso,  deveria demitir-se e, ao faze-lo, permitiria que o PR o convidasse a formar um governo maioritário pluripartidário para enfrentar a crise. Hoje muita gente diz isto, eu venho-o apontando há muito tempo no meu caderno.
- Então precisam do Sócrates?
- Precisa-se do PS, evidentemente.
- E tu achas bem que o PSD tenha votado ao lado do BE, do PCP e do CDS para derrotar a decisão do Governo em terminar com a duplicação de professores nas aulas de Educação Visual e Tecnológica e a extinção da "Área do Projecto" e do "Estudo Acompanhado"?
- Não conheço suficientemente o assunto para me pronunciar. Mas parece-me mal o gasto de dinheiros públicos sem utilidade que os valha. Se esse é o caso, o alinhamento do PSD com a restante oposição é reprovável. Como reprováveis são as greves de serviços públicos, porque ao poder reivindicativo dos grevistas não podem opor-se os que terão de pagar as reivindicações se elas são atendidas, isto é, os contribuintes.
- Compete ao PR gerar consensos e não fomentar conflitos...
- Tens toda a razão. Mas também não pode esperar-se que o PR fique mude e quedo como um penedo quando o PM não cumpre o protocolo e deixa o PR, o Presidente da Assembleia da República e a fila de convidados à espera dele. Portou-se mal. E voltou a portar-se mal nesta cena do aumento das medidas de austeridade, não informando o PR, como constitucionalmente lhe competia, não informando os parceiros sociais, não negociando nada com o PSD. Mais uma vez colocou o PSD perante um facto consumado.
- Quem manda é a Merkel!
- Isso não mandou. A Merkel não disse a Sócrates, vamos fazer isto mas não digas nada a minguém!
- E agora, o que é que o PSD vai fazer? Deita abaixo o Governo com uma moção de censura?
- Não sei. O que sei é que novas eleições, qualquer que seja o resultado, não resolveriam a parte fundamental do problema: Portugal precisa de um Governo mairitário pluripartidário, o PS é necessário, assim como todos os partidos que queiram colocar os interesses do país acima dos interesses partidários e os enquistamentos ideológicos. Se eleições antecipadas permitirem que os dirigentes partidários que delas emergirem forem capazes de consensualizar um estratégia, venham elas. Com Sócrates na liderança do PS, sabemos que a procura de consensos pluripartidarios não é possível. Nem à esquerda nem à direita.
- Não é ao PR que compete fomentar esses consensos?
- Só o PM em exercício ou indigitado pode formar um Governo que reuna o consenso mais alargado possível. A Constituição não permite uma intervenção decisiva do PR nessa matéria. Pode influenciar mas não pode decidir.
- Pode ter um discurso diferente.
- Até tem tido. Mas Sócrates não atende aos avisos de ninguém. Quantas vezes o PR já referiu, aliás na sequência do que muita gente diz, que os grandes projectos têm de esperar? Pois bem, ainda há dias o Ministro das Obras Públicas veio a público anunciar um pacote de 25 mil milhões ... isto depois de ter sido concertado com o PSD, a propósito do PEC 4 (ou terá sido o 3?, ou o 5?) que os grandes projectos seriam objecto de reapreciação. É obsessão ou não? 

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