Friday, April 09, 2010

INGOVERNADOS

ABRIL, 10, 2010
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(continuação do apontamento anterior)
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É sempre difícil governar recursos escassos, casa em que não há pão não é casa sossegada. Portugal foi sempre um país pobre, salvo um instante histórico em que Lisboa foi centro do mundo mas que não chegou para promover o país a um patamar de país rico. A partir do momento em que voltou a descentrar-se Portugal viveu séculos de quase isolamento e de falta do confronto que gera o progresso. A integração europeia e a globalização vieram por à prova a flacidez da capacidade dos portugueses adquirida por adormecimento excessivo. Submetidos a desafios, os portugueses são tão capazes como quaisquer outros de dar conta do recado e a União Europeia, a globalização, e até a crise, obrigam a mudanças de atitudes que ainda hoje condicionam o crescimento económico e social. Mas há sempre reacção à mudança, daí o coro rezingão que se ouve por aí e a sensação geral de ingovernabilidade.
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Paira sobre o nosso imaginário colectivo, como uma autojustificação das nossas frustrações comuns, a convicção de uma lendária atitude de rebeldia congénita herdada dos lusitanos relatada por um general romano do século primeiro: "há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar". Mas é uma convicção com mais basófia que individualismo obstinado. Sangue lusitano, se algum ainda nos corre nas veias, será homeopático. Sempre houve portugueses que se governaram lindamente e muitos portugueses que se deixaram governar sem tugir nem mugir. A resistência à governabilidade decorre mais de uma tradição corporativa, que séculos de acantonamento enquinaram e o regime democrático não removeu, do que de quaisquer especificidades inscritas no genoma.
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O disfuncionamento de um certo número de instituições basilares da sociedade, (não se sabe porquê) " referido por Eduardo Lourenço, não sendo devido à falta de um homem forte poderá ser atribuido ao afastamento dos melhores por uma sociedade perversamente mediatizada? Não creio. E não creio porque não é pelo facto de o palco ser outro que os melhores ficam inibidos de mostrar o que valem. A ciência e a tecnologia não recuam, agora como sempre os melhor sucedidos são os que melhor se adaptam.
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Não decorrendo a dificuldade de governar, que se exarceba em tempos de crise profunda, de idiossincrasias de um tipo português, que não existe, o disfuncionamento das instituições só pode atribuir-se à falta de força de quem governa. Se a força necessária para acelerar a mudança, inevitável de qualquer modo, não é nem possível nem desejável que seja pedida à força bruta de um homem forte, terá de pedir-se a um governo democrático com uma base de apoio maioritária e o mais alargada possível.
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Até lá, qualquer outro governo faz que governa mas não governa.

3 comments:

António said...

Boa tarde.
""É sempre difícil governar recursos escassos,""
Não é bem assim. Quer ver como se governam?
Então aí vai:

Exemplo: Um deputado de LISBOA concorre por AVEIRO e fica com o SUBSÍDIO de DESLOCAÇÃO ...

O ministro das Finanças autorizou a concessão de um subsídio de Alojamento a Ascenso Simões, secretário de Estado da Protecção Civil, no montante de 75% do valor das ajudas de custo estabelecidas para os vencimentos superiores ao índice 405 da Função Pública, ou seja, são mais 1300 euros por mês

O próprio Teixeira dos Santos recebe este subsídio por não possuir residência em Lisboa. Está a viver no Porto, tendo residência oficial em Lisboa. Continua a dar aulas, ele e a mulher, na Universidade, no Porto e é Presidente da Bolsa de Valores do Porto.

Enquanto estes canalhas andam a roubar o direito ao salário e à carreira dos funcionários, ao mesmo tempo pagam-se a eles próprios "subsídios de residência", cujos montantes são superiores ao que auferem mensalmente 80% dos funcionários no seu próprio salário! E isto só em "subsídio"! Ou seja, a técnica é esta: Rouba-se a muitos, para dar muito, a poucos! Esta é a política do desgoverno!
(Para que se saiba os pagamentos que os desgovernantes fazem a si próprios, tudo em nome da "lei")
E as viagens a Paris, para ir a "casa" (ou "casar")em Executiva, com direito a champagne e tudo?

rui fonseca said...

"O próprio Teixeira dos Santos ... Continua a dar aulas,"

António,

Acha que ele tem tempo para isso?

António said...

Pergunte-lhe a ele como se arranja.
Esta malta é especializada em coleccionar tachos.