Tuesday, January 08, 2008

POLÍCIAS E LADRÕES À PORTUGUESA

Quando, anteontem, ouvi as declarações de Teixeira dos Santos, a propósito do BCP, de que "quando uma casa é assaltada não faz sentido que se corra atrás do polícia, devemos é correr atrás do ladrão", estranhei os termos e fiquei na expectativa que alguém saísse a terreiro de barrete enfiado na cabeça. E saiu.
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Leio, hoje, no Jornal de Negócios Online que "A administração do Banco Comercial Português (BCP) emitiu um comunicado onde manifesta "estranheza e incompreensão" em relação às declarações proferidas pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos."
O BCP considera que as declarações são "atentatórias do seu bom nome pessoal e prestígio" do banco "em especial não tendo os órgãos de gestão executiva desta Instituição, ou qualquer dos seus membros sido informados da conclusão dos processos de averiguações em curso", segundo o comunicado.
O ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos, defendeu no domingo que as denúncias de "operações ilegais" e "eventuais ilícitos criminais" no BCP devem ser investigadas e os culpados punidos, "doa a quem doer". O responsável manifestou "apoio e confiança" às autoridades às quais compete a investigação e considerou "extemporâneo e injustificável a todo o título" críticas que possam pôr em causa a "independência das autoridades".
E considerou que "não faz sentido que, quando uma casa é assaltada, se corra atrás do polícia, faz sentido que corra atrás do ladrão".(...)
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Percebe-se bem que o Ministro disse o que pensou, na altura, mas disse mais do que aquilo que quereria ter dito.
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Tendo, ele próprio, Teixeira dos Santos, presidido à CMVM durante parte do período em que os assaltos (para utilizar as palavras dele) ocorreram, e sendo agora, a partir do momento em que deixou aquelas funções e foi nomeado Ministro, tutela das entidades reguladoras e fiscalizadoras do sistema financeiro português (Banco de Portugal e CMVM), a reacção do Ministro decorre do instinto de sobrevivência: preocupem-se com os ladrões, deixem os polícias descansados.
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Acontece que esse instinto de defesa lhe inspirou insinuações prematuras: a casa foi roubada e, portanto, há ladrões que devem ser punidos, doa a quem doer, mas aos polícias é impertinente pedir-lhes contas.
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Já, anteriormente, o governador do Banco de Portugal tinha recomendado que conviria que nenhum dos administradores do BCP durante o período em que os factos dolosos ocorreram se candidatasse a novo mandato.
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Estamos, portanto, perante uma situação em que os polícias não prendem nem dizem porque não prendem mas vão adiantando que sabem de alguma coisa que foi roubada, e quem a roubou, mas não dizem por enquanto.
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Por quê, é um mistério que talvez seja desvendado no próximo século.

1 comment:

António said...

Um polícia que se preze não se limita a ver os papéis que lhe mostram. Pede-os todos, livrete, numero de contribuinte, selo do carro, seguro, carta, inspecção e ainda vai "farejar os pneus e o depósito da gasosa.Ainda espreita pelo tubo de escape.
Estes polícias a que o ministro se refere, são uns anjinhos, uns tipos cheios de boa-fé. Uns crentes.
Mas a esses que ele se refere e de que fez e faz parte, não convém perseguir.
Tanto rouba o que vai à vinha...como o que fica a vigiar.