Por razões de convicções que nem admitem contraditório, os neoliberais ridicularizam a cada passo as preocupações com as agressões ao ambiente que estão na origem do aquecimento do planeta e ameaçam o equilíbrio do sistema ecológico global. Al Gore tem sido, ultimamente, o mais batido bombo da festa neoliberal.
O artigo de HM no Público de ontem (5/3) “O pecado”, transcrito hoje no Blasfémias
ensaia um exercício de transferência da superstição que explica os terramotos e outras calamidades naturais como punição dos deuses imposta aos humanos pelos seus pecados carnais para uma "superstição tecnocrática", segundo HM, que vê nas alterações do clima as origens de muitos desastres ambientais; já hoje e cada vez mais no futuro.
HM preenche o seu artigo com algumas verdades incontestáveis para sobre elas assentar uns quantos sofismas.
Cito:
“Em Portugal esta nova versão do castigo que já foi de Deus e agora é da Terra atinge foros de delírio místico. No Verão, temos o inferno dos fogos. No Inverno, o purgatório das cheias ou do mar galgando as arribas. Como bons fiéis que somos, para tudo isto arranjámos uma explicação que nos transcende e desresponsabiliza: as alterações do clima.
É certamente tentador acreditar, tal como se ouviu este Inverno em Portugal que “os gelos derretem naqueles sítios e fazem o mar subir” na Costa da Caparica. Porém é mais útil do domínio do pecado para o da responsabilidade.
Na Costa portuguesa construiu-se e constrói-se nas falésias e dunas. Fizeram-se barragens e extraíram-se areias como se tal actividade não tivesse impacto nos rios e na costa. A isto junta-se uma enlouquecida máquina administrativa que (…) conta com 105 entidades. Logo 105 presidentes para autorizar, fiscalizar, multar…”
Para HM, portanto, só as razões de ao pé da porta contam. Só as agressões feitas em nome de um desenvolvimento terceiro-mundista são criticáveis, só essas são pecado. Pelo contrário, as agressões ambientais que ocorrem aqui e em toda a parte do globo, feitas em nome do crescimento económico alimentado pelo consumismo desenfreado, não contam, não são pecado algum, são antes fruto da imaginação de uns quantos (mas muitos) fanáticos do ambiente, agora com Al Gore premiado por Hollywood à frente do pelotão.
A posição neoliberal perante os efeitos perversos do desenvolvimento é demasiado previsível mas, como se constata, também flagrantemente incoerente. Porque o pecado mora aqui e ao lado, e em qualquer caso é pecado.
HM preenche o seu artigo com algumas verdades incontestáveis para sobre elas assentar uns quantos sofismas.
Cito:
“Em Portugal esta nova versão do castigo que já foi de Deus e agora é da Terra atinge foros de delírio místico. No Verão, temos o inferno dos fogos. No Inverno, o purgatório das cheias ou do mar galgando as arribas. Como bons fiéis que somos, para tudo isto arranjámos uma explicação que nos transcende e desresponsabiliza: as alterações do clima.
É certamente tentador acreditar, tal como se ouviu este Inverno em Portugal que “os gelos derretem naqueles sítios e fazem o mar subir” na Costa da Caparica. Porém é mais útil do domínio do pecado para o da responsabilidade.
Na Costa portuguesa construiu-se e constrói-se nas falésias e dunas. Fizeram-se barragens e extraíram-se areias como se tal actividade não tivesse impacto nos rios e na costa. A isto junta-se uma enlouquecida máquina administrativa que (…) conta com 105 entidades. Logo 105 presidentes para autorizar, fiscalizar, multar…”
Para HM, portanto, só as razões de ao pé da porta contam. Só as agressões feitas em nome de um desenvolvimento terceiro-mundista são criticáveis, só essas são pecado. Pelo contrário, as agressões ambientais que ocorrem aqui e em toda a parte do globo, feitas em nome do crescimento económico alimentado pelo consumismo desenfreado, não contam, não são pecado algum, são antes fruto da imaginação de uns quantos (mas muitos) fanáticos do ambiente, agora com Al Gore premiado por Hollywood à frente do pelotão.
A posição neoliberal perante os efeitos perversos do desenvolvimento é demasiado previsível mas, como se constata, também flagrantemente incoerente. Porque o pecado mora aqui e ao lado, e em qualquer caso é pecado.
No comments:
Post a Comment