No dia 20 deste mês, Wolfgang Münchau deduzia num artigo publicado no FT que a única forma de evitar uma corrida aos bancos está na centralização bancária e na garantia dos depósitos. Transcrevi essa proposta aqui. No dia 26 coloquei duas notas, a segunda das quais aqui, comentando um extenso editorial do Economist que concluía que um federalismo limitado, que será sempre um exercício complicado, é a única possibilidade de salvar a zona euro. E que, para além de outros passos nesse sentido federativo mínimo, é nuclear a centralização da supervisão bancária.
Hoje é notícia que Mario Draghi, preocupado com a evolução do sistema bancário espanhol, defende a centralização urgente da supervisão bancária dos grandes bancos europeus, retirando-a aos bancos centrais nacionais. Draghi vai, aliás, mais longe, afirmando que a supervisão espanhola subestimou a dimensão das imparidades do Bankia (vd aqui) tornando clara a sua desconfiança relativamente aos responsáveis pelo Banco de Espanha. Deduzo que, se tivesse que decidir hoje, por idênticas razões, Draghi jamais teria aceitado como seu vice o ex-governador do Banco de Portugal*.
Sintomaticamente, saíram de Espanha 66,2 mil milhões de euros em Março, ultrapassando todos os recordes. Por outro lado, é indisfarçável que o descontentamento do BCE atinge o governo de Rajoy acusando-o de ter actuado da pior forma possível sendo previsível que esteja para breve o pedido de intervenção externa de modo a estancar a degradação da situação caracterizada por uma economia em recessão, o recorde mundial do desemprego e uma crise financeira de contornos ainda imprecisos mas, indubitavelmente, preocupantes para o sistema global.
O cerco aperta-se. Chegou a hora dos líderes da União Europeia decidirem sobre aquilo que têm sistematicamente adiado. Draghi já moveu uma peça importante neste jogo de desfecho imprevisível em que ou ganham todos alguma coisa ou se perde a União Europeia e tudo o mais que essa perda desencadear.
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* É frequente ouvir-se da parte daqueles que pretendem desculpabilizar Constâncio da parte gorda que lhe cabe pelo descalabro dos níveis de crédito importados pela banca portuguesa, que alimentaram os mais diversos desvarios de uma economia de fantasia, com as dramáticas consequências que o tempo pôs a descoberto, argumentando que aconteceu o mesmo até nos EUA onde a Fed costuma levar estas questões a sério. A crise financeira espanhola e a exposição das negligências do supervisor parecem reforçar o argumento pró-Constâncio. Mas não reforçam, antes confirmam que, cá como lá, seja onde for, se o banco central não interveio como e quando devia no sentido de barrar a caminhada para o desastre, as respectivas economias estão fragilizadas, o sistema financeiro em perda acelerada de credibilidade, o sistema financeiro global ameaçado. Acresce que, para lá da falta de controlo dos níveis de crédito importados sem alertas nem avisos por parte do banco central, o ex-governador do Banco de Portugal fez que não viu aquilo que era demasiado evidente para ele e a sua equipa não verem. Refiro-me, evidentemente, ao BPN, esse mostrengo medonho que nos roubará largos milhares de milhões de euros este ano e muitos mais nos próximos. Mas também ao BPP, e, noutro sentido, ao BCP, até à própria Caixa Geral de Depósitos, hoje considerada um sério risco para as contas do país.
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Correl. - Todos cometemos erros porque concedemos demasiado crédito ... O Banco de Portugal falhou porque deveria ter imposto limites. (António Rodrigues, ex-administardor do BCP quando presidia Jardim Gonçalves )
Hoje é notícia que Mario Draghi, preocupado com a evolução do sistema bancário espanhol, defende a centralização urgente da supervisão bancária dos grandes bancos europeus, retirando-a aos bancos centrais nacionais. Draghi vai, aliás, mais longe, afirmando que a supervisão espanhola subestimou a dimensão das imparidades do Bankia (vd aqui) tornando clara a sua desconfiança relativamente aos responsáveis pelo Banco de Espanha. Deduzo que, se tivesse que decidir hoje, por idênticas razões, Draghi jamais teria aceitado como seu vice o ex-governador do Banco de Portugal*.
Sintomaticamente, saíram de Espanha 66,2 mil milhões de euros em Março, ultrapassando todos os recordes. Por outro lado, é indisfarçável que o descontentamento do BCE atinge o governo de Rajoy acusando-o de ter actuado da pior forma possível sendo previsível que esteja para breve o pedido de intervenção externa de modo a estancar a degradação da situação caracterizada por uma economia em recessão, o recorde mundial do desemprego e uma crise financeira de contornos ainda imprecisos mas, indubitavelmente, preocupantes para o sistema global.
O cerco aperta-se. Chegou a hora dos líderes da União Europeia decidirem sobre aquilo que têm sistematicamente adiado. Draghi já moveu uma peça importante neste jogo de desfecho imprevisível em que ou ganham todos alguma coisa ou se perde a União Europeia e tudo o mais que essa perda desencadear.
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* É frequente ouvir-se da parte daqueles que pretendem desculpabilizar Constâncio da parte gorda que lhe cabe pelo descalabro dos níveis de crédito importados pela banca portuguesa, que alimentaram os mais diversos desvarios de uma economia de fantasia, com as dramáticas consequências que o tempo pôs a descoberto, argumentando que aconteceu o mesmo até nos EUA onde a Fed costuma levar estas questões a sério. A crise financeira espanhola e a exposição das negligências do supervisor parecem reforçar o argumento pró-Constâncio. Mas não reforçam, antes confirmam que, cá como lá, seja onde for, se o banco central não interveio como e quando devia no sentido de barrar a caminhada para o desastre, as respectivas economias estão fragilizadas, o sistema financeiro em perda acelerada de credibilidade, o sistema financeiro global ameaçado. Acresce que, para lá da falta de controlo dos níveis de crédito importados sem alertas nem avisos por parte do banco central, o ex-governador do Banco de Portugal fez que não viu aquilo que era demasiado evidente para ele e a sua equipa não verem. Refiro-me, evidentemente, ao BPN, esse mostrengo medonho que nos roubará largos milhares de milhões de euros este ano e muitos mais nos próximos. Mas também ao BPP, e, noutro sentido, ao BCP, até à própria Caixa Geral de Depósitos, hoje considerada um sério risco para as contas do país.
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Correl. - Todos cometemos erros porque concedemos demasiado crédito ... O Banco de Portugal falhou porque deveria ter imposto limites. (António Rodrigues, ex-administardor do BCP quando presidia Jardim Gonçalves )