Tuesday, May 01, 2012

AMANHÃ NÃO SE TRABALHA

como hoje.
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"Junto das enormes instalações onde se realizam inúmeras feiras de negócios, em Frankfurt, Alemanha, ergue-se a estátua cinética do  "Homem do martelo" com 21 metros de altura, que permanentemente levanta e baixa o braço e bate numa chapa de ferro com um martelo. Jonathan Borofsky, o artista que a concebeu, afirmou que a sua obra celebra o trabalhador usando a sua inteligência e as suas mãos para criar o mundo em que vivemos hoje. É uma história conhecida. Hoje as ferramentas estão a mudar em muitos sentidos que transformarão o futuro da produção industrial"


Principia assim o artigo publicado aqui há duas semanas no "Economist" sobre a "Terceira Revolução Industrial", que está a começar a acontecer. Um dia destes, não restarão vestígios das duas revoluções industriais anteriores nem do mundo do trabalho que as antecedeu, que perdurou durante milénios e chegou aos nossos dias. A não ser em instalações abandonadas ou reconvertidas em espaços com outros fins nas estátuas gigantescas de Borofsky ou em tamanho natural como a da padeira da minha aldeia.

Ouço esta manhã na rádio o líder da Oposição reclamar que o tratado que receita austeridade contemple também políticas de crescimento e emprego. Nada de original porque a mesma proposta está na ordem do dia quase por toda a parte. Não sei mesmo de quem seja tão obtuso que se oponha à adopção de tais políticas.

Tais, quais? Aí é que reside o búsilis da questão.
O trabalho realizado com recurso em grande medida à força física, à drestreza manual, ao ritmo, à repartição das tarefas, passou a localizar-se em economias emergentes e não vai emigrar de lá. Uma parte muito significativa da sua população activa competia (e está agora desempregada) e continua a competir (mas vê as suas condições salariais degradarem-se) com trabalhadores do outro lado do mundo onde o estado social ainda não chegou. Como se resolve esta equação, senhor líder da Oposição?

A teoria da inovação destruição creativa de Schumpeter não dá resposta a um dilema que as sociedades do futuro têm de enfrentar: a ciência posta ao serviço da técnica determina, além do mais, crescimento da produtividade, quer dizer, além do mais, menos horas de trabalho para realizar a mesma produção. Tendencialmente, e isso demonstra-o a história, o número de horas de trabalho reduz-se, reduzindo-se o emprego porque o consumo global não pode crescer infinitamente. O estado social não é um luxo europeu mas o modelo que todas as sociedades do futuro têm de adoptar se forem livres. A coabitação, local, regional ou planetária requer solidariedade se não quiser a guerra.

A curto prazo não se vislumbra alternativa para o cerco que ameaça já uma parte significativa da União Europeia senão uma união política que garanta a coesão entre os seus membros e uma renegociação dos tratados de comércio livre que permitam a uma parte dessas economias competir com armas iguais.

De qualquer modo nunca Portugal, nem qualquer outro país europeu onde predomine ainda uma faixa importante da sua população activa impreparada, pode contar com políticas de crescimento e emprego sustentadas em obras de cimento armado para sair da fossa.

Há outras saídas? Terá de haver. E não podem ser poucas, mas a saída do euro não é uma delas.
Compete à Oposição descortiná-las e confrontá-las com as actuais políticas recessivas que critica.

Se não não se sai disto.

A produção industrial, sem a qual não há crescimento sustentado, amanhã será assim:



Portugal perdeu o comboio nas duas anteriores estações. Que hipóteses tem de chegar desta vez a tempo?

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