Saturday, May 05, 2012

TUDO MAUS RAPAZES

- Eu não penso que eles tenham roubado. Por acaso, até sou testemunha abonatória do G.
- Fazes mal ...
- É o que me dizem lá em casa ... também acham que não devia, mas eu testemunho apenas aquilo que penso, e penso que não roubaram ninguém. O que penso é que, a páginas tantas, as coisas não correram como eles tinham previsto.
- É sempre assim. É só quando as coisas não correm como eles previram que se sabe que houve e quem foi que fez o assalto. Se tudo corre nos conformes, não há notícia nem gatuno, e o roubo esquece-se. Acontece que, neste caso, o rombo é tão grande que arromba (quase) todos de uma forma impossível de senti-lo.
- O que é certo é que eles construíram em poucos anos um banco que foi "case study".
- Uma acção gloriosa não anula uma subsequente acção criminosa. Se fosse o caso, o Otelo, por exemplo, continuaria a ser visto como um herói sem mácula e não uma barata tonta que não pára de fazer e dizer disparates. 
- Mas não está preso ... 
- Já esteve. E a imagem que ficará na história está marcada sem possibilidade de retoques pelos actos que cometeu e por aquilo que disse, e continua a dizer. 
- Eu continuo a achar que o G. não cometeu crime algum.
- Como, não cometeu? Se as cotações das acções subiram até onde subiram, com recurso a manipulações com configurações que hoje são parcialmente conhecidas, e com isso fizeram um foguetório de lucros, meteram ao bolso (que é enorme) remunerações, prémios , que os tornaram multimilionários, se a ganância os levou a praticar negócios sem olhar aos riscos, se o banco está hoje repleto de imparidades que lhe arrastaram já as cotações para níveis irrisórios, se recorreram já a, que eu saiba, pelo menos duas emissões de obrigações a taxas "subprime", avalizadas pelo Estado, isto é pelos nossos bolsos, se a recapitalização vai exigir a entrada de mais capitais intermediados e avalizados pelo Estado, se ameaça cair de todo nos braços do Estado e tornar-se num ainda mais medonho BPN, não são culpados aqueles que foram responsáveis por essas acções que os portugueses têm de pagar com língua de palmo?
- Que imparidades são essas?
- Aquelas que já fizeram cair as cotações das acções a preços da uva mijona resultantes de conivências gordas entre administradores e os principais accionistas que lhes garantiram os lugares por contrapartida de financiamentos exorbitantes,  e as muitas outras que vão aparecer à medida que lhes caírem no balanço as casas que financiaram sem cuidarem da capacidade dos tomadores dos empréstimos para os pagarem. Financiaram a cem por cento, e às vezes mais, empurrando crédito fácil de engolir que agora tem de ser regurgitado sem serem regurgitados os larguíssimos milhões arrecadados à sua conta. Quem paga? Os contribuintes. 
- Todos fizeram o mesmo ...
- É verdade, incluindo, a Caixa, o banco do Estado. Mas a generalização não absolve cada um dos culpados. 
- Então estão todos falidos.
- Tens dúvidas?
- O culpado foi o Estado, foram os supervisores ...
- Também foram. Aqui este nosso amigo é que acha que não. Curiosamente, foram geralmente promovidos. Mas se os supervisores são culpados, isso não absolve os protagonistas das ilegalidades nem é factor atenuante. Se a polícia é culpada por negligência, tal facto não faz de um gatuno um inocente.
- Vou à casa de banho.  

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