Para satisfação dos eurocépticos, dos nacionalistas, dos xenófobos, dos radicais de esquerda, dos ultra da direita, e de todos quantos não acreditam ou não querem acreditar numa Europa unificada pela solidariedade mas também pelo respeito por valores comuns sem prejuízo das especificidades culturais de cada região, que não contrariam mas reforçam a coesão do conjunto, uma federação (ou confederação) europeia está ainda longe de acontecer.
E, no entanto, quanto mais tarde os europeus democraticamente reconhecerem que só a unificação política dos vectores essenciais do Estado permite a continuidade da construção europeia, e que só o prosseguimento dessa construção evitará um novo conflito armado na Europa, mais se avolumarão as forças que impelem o seu desmoronamento e a caminhada para o confronto que os pais fundadores da união europeia quiseram prevenir.
A unificação europeia não é senão um exemplo avançado da globalização à escala planetária, que, sendo reversível, se o for, detonará uma catástrofe bélica sem precedentes na história da humanidade. Não sendo previsível que, nos séculos mais próximos, a humanidade conquiste no espaço outros locais para habitar, o crescimento demográfico global impõe que haja capacidade de coabitação pacífica no globo terrestre, tornado cada vez mais aldeia global, se quiser evitar a sua autodestruição total.
Neste bairro chique do mundo, em que vivemos, apesar de alguns subúrbios degradados e de alguma progressiva degradação cultural, social e económica, chamado Europa, a continuação da paz só pode ser conseguida com a integração política que minimamente sustente a integração económica por onde começou.
Pretender sustentar a coabitação no bairro sem um governo que assegure a convivência pacífica por obediência a algumas regras comuns é tentar o impossível. A crise actual já tornou evidente que o modelo adoptado até aqui tropeçou nas suas incongruências e fará cair a União se não for substituido.
No entanto, como já alguns avisaram, um novo modelo (que dificilmente deixará de passar por um governo federal ou aparentado) não pode ser imposto pela pressão das circunstâncias nem à revelia do voto popular, seguindo a fórmula construtiva utilizada até aqui.
E é neste aspecto que o deserto é total porque os caminhos alternativos não são propostos à discussão pública. Parece que existe o receio de que o enfrentamento da realidade possa perturbar o autismo dos construtores e desmoronar a obra desequilibrada.
Falta aos dirigentes europeus tanto em coragem, arrojo, temeridade, quanto lhes sobra em calculismo e pusilanimidade, para enfrentar a fase mais difícil desta construção complicada.
1 comment:
Eu, que em geral só aqui escrevo quando os teus textos me induzem ao contraditório, não podia estar mais de acordo com este
'apontamento', como lhes chamas.Só me interrogo como é que os nossos governantes(?) permitem que o nosso sonho de uma Europa unida, pacífica e solidária esteja a desvanecer-se com os riscos de uma catástrofe de consequências inimagináveis.Triste legado deixaremos aos nossos vidouros. Oxalá estejamos, eu e tu, enganados.Abç
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