Saturday, April 04, 2009

O MISTÉRIO PÚBLICO

José Manual Fernandes assina hoje o editorial do Público "O país onde o crime compensa e a Justiça ajuda". Podemos ou não concordar, geralmente, com o que escreve JMFernandes mas dificilmente haverá quem, honestamente, possa discordar do retrato que ele, mais uma vez, tira à Justiça em Portugal e onde se alinham figuras sinistras, a título de exemplo, na nódoa de corrupção que se alarga todos os dias e à volta da qual os magistrados do Ministério Público ensaiam os passos indecisos e cambaleantes da cabra cega. Isaltino de Morais, Mesquita Machado, Domingos Névoa, são alguns dos muitos foliões que se saracoteiam à volta da tonta vendada.
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Como se este jogo com armas desiguais não bastasse para ridicularizar o Ministério Público, são os próprios membros do MP que, incapazes de chutar de forma certeira para as redes contrárias, se realizam em atirar para a própria baliza. A denúncia feita há dias pelo presidente do SMMP de pressões sobre os magistrados ocupados com o caso Freeport, sem declarar publicamente o nome, ou os nomes de quem pressionava; a declaração redonda do Procurador-Geral após uma reunião entre pressionados e o suspeito pressionante; a declaração dúbia do Ministro Santos Silva repudiando as insinuações de pressão (como é que ele sabe que não existiram pressões?) juntam à imagem de recorrente impotência do MP a da sua completa desorientação interna.
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Cândida Almeida, a responsável pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal, entre declarações e contradições repescou há dias uma proposta de João Cravinho que os parlamentares do PS recusaram: a instituição do crime de enriquecimento ilícito. Não se voltou a falar do assunto. Porquê?
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Quem souber responder, saberá resolver o mistério público.

2 comments:

A Chata said...

Enquanto andamos nisto, a processar, a ser processados, a pressionar, a não pressionar, a ficar ofendidos e a discutir o Freeport, o BPN, os arguidos que foram 'surpreendentemente' absolvidos, não pensamos nas outras desgraças mais graves que estão por aí.

Familias sem ter o que comer, mais uns quantos que ficaram desempregados, mais umas empresas que fecharam, mais umas casas em leilão...

Venham mais uns escandalos de corrupção que o futebol já não é suficiente para distrair o pessoal.

O que este pessoal esquece é que, a partir de uma certa altura, vai ser dificil distrair uma multidão com fome, sem esperança de futuro e sem nada a perder.

Tanta podridão não pode acabar bem.

Rui Fonseca said...

"Tanta podridão não pode acabar bem."

Pois não.

Mas se a crise obrigar a mudar a consciência colectiva dos portugueses no sentido de uma generalizada maior exigência, que viva a crise!