Monday, April 20, 2009

LOGROS E PARADOXOS

Não há analista, economista ou comentador do nosso atraso que não atribua à falta de suficiente crescimento da produtividade a responsabilidade principal pelo marasmo em que a economia portuguesa embarcou na última década e que a crise mundial actual agravou. Geralmente, atribuem-se as culpas desta improdutividade que nos faz descer ano após ano nos rankings dos países da União Europeia e da OCDE, com os quais usualmente nos comparamos, aos maus resultados obtidos em áreas-chave que se encontram no caminho crítico para o desenvolvimento económico e social, de entre as quais se destacam a educação e a justiça.
.
O INE publicou recentemente um relatório que conclui que a produtividade do trabalho, em Portugal, medida com base nas horas trabalhadas, cresceu à média anual de 1,2% no período 2000 a 2006. Um crescimento escasso que colocou a economia portuguesa em divergência com a média da União Europeia quando se precisava do contrário.
.
Apesar de tão citado, o conceito "produtividade" é extremamente subtil e absorve realidades que pouco ou nada têm que ver com a raiz da palavra, induzindo conclusões frequentemente apressadas e inconsistentes.
Quando se afirma que o Valor Acrescentado Bruto por hora de trabalho (a produtividade) no sector primário se situa em 26% da média da economia em contraste com os 445,3% dos serviços financeiros, pode inferir-se que, em consequência da muito melhor preparação profissional dos bancários eles atingem níveis de produtividade que são quase 20 vezes superiores aos dos que trabalham no sector primário? Ou quererá antes dizer que, para além dos números de 2006 ainda não reflectirem as consequências da crise no sector financeiro, os financeiros têm, por razões de mercado protegido, maior capacidade de apropriação que os dos sectores primários?
.
Outros sectores com VAB por hora trabalhada que ficam aquém da média da economia: Indústria e energia, 97,6%; Construção, 62,5%; Alojamento e restauração, 64,8%.
.
E a administração pública, defesa, segurança social, educação e saúde e acção social, que níveis de produtividade atingem? 132,6% da média da economia; Os transportes e comunicações, 177,1%; As actividades imobiliárias, 150,5%. Todos bem acima da média.
.
O que é que há de comum entre os sectores menos produtivos (com menor output VAB/hora)?
São sectores que se situam na produção de bens e serviços transaccionáveis, isto é, sujeitos às leis da concorrência dos mercados. A análise separada do sector Indústria e Energia levará à conclusão que a Indústria fica bastante aquém dos 97,6% agregados para o conjunto e a Energia bastante acima, por escapar às leis do mercado.
.
O que é um paradoxo: A concorrência não é obstáculo ao crescimento da produtividade; a concorrência é motor do crescimento produtivo qualquer que seja o critério em apreciação, quantitativo ou qualitativo.
.
A produtividade, como conceito de análise económica pode ser um logro.
----------
Excerto do relatório do INE :

O sector dos serviços absorve mais de metade do trabalho na economia, tendo sido a única actividade em que se verificou um aumento do número de horas trabalhadas no período disponível, contrastando, portanto, com o observado nos sectores primário, na indústria e energia e construção. O peso relativo dos serviços aumentou 5 pontos percentuais (p.p.), absorvendo 60% das horas trabalhadas em 2006 (quedando-se a indústria e energia pelos 18%,e o sector primário e a construção com 11% cada.

O comércio e reparação (CAE G) ocupam cerca de 17% do trabalho da economia, com ligeiro aumento de 2000 (16,5%) para 2006 (18,4%); O alojamento e restauração, 6,1%; Os transportes e comunicações, 4%; As actividades financeiras, 1,7%. A administração pública, defesa e segurança social, educação e saúde e acção social (CAEs L, M e N) absorve uma proporção semelhante e crescente (16,3% em 2000 e 17,4% em 2006). Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas, outros serviços colectivos, sociais e pessoais e empregados domésticos, que ocupam 12,0% do emprego em 2006, aumentando ao longo do período (10,5% em 2000).

Em 2006, o VAB por hora de trabalho no sector primário situa-se em 26% da média da economia, em contraste com os 445,3% dos serviços financeiros.

Em termos de grandes ramos de actividade, apenas as actividades de serviços apresentam VAB por hora superior à média da economia (entre 120,8% e 125,8%), apesar das suas componente de comércio e reparação e de alojamento e restauração se encontrarem bem abaixo da média.

O VAB por hora de trabalho no sector primário oscilou entre 25,4% (2005) e 30,1% (2000) da média da economia no período em análise. Esta situação relativa é mais desfavorável que a que se obtém tomando em conta o VAB por Equivalente a Tempo Completo (ETC), o que se prende com o facto de a jornada no sector primário ser sistematicamente superior à jornada média da economia (entre 15,3% e 17,6%, a que correspondem cerca de 5h48min. e 6h42 min., respectivamente).

Também os ramos da construção, com cerca de 63% da média da economia e o comércio e a restauração, que oscilaram entre 69,7% e 81% no primeiro caso e os 64,8% e 70,3% no segundo, apresentaram resultados inferiores aos valores médios globais. Por seu lado, a Indústria e energia apresentou valores próximos da média, oscilando o seu VAB por hora de trabalho entre os 96,6% e 97,6% da economia.

No extremo oposto, refira-se a actividade financeira, com um VAB por hora de trabalho 339% acima da média em 2000 e 445,3% em 2006. Segue-se a actividade de transportes e comunicações com cerca de 180% e actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas, outros serviços colectivos, sociais e pessoais e empregados domésticos, entre 150,5% e 167%


No comments: