Wednesday, April 08, 2009

TÊ-GÊ-VÊS

O TGV divide a opinião pública portuguesa? Duvido.
Divirá, sim, as claques.
Depois de ouvir tantos prós e contras, apenas um pequeno número de portugueses estará habilitado a avaliar o que está em causa. A esmagadora maioria daqueles que se pronunciam a favor ou contra fazem-no por uma questão de adesão partidária, efectiva ou afectiva. Fosse a posição do actual ministro contrária à do seu antecessor, que discutiu com o governo espanhol o traçado da entrada na fronteira, e a maioria dos que são agora a favor seriam contra; como são contra os que anteriormente eram a favor.
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A partidarite inquina qualquer objectividade que a análise de uma opção com tal dimensão e impacto na economia portuguesa exigiria, se houvesse exigência legal que impusesse uma informação transparente dos pressupostos e objectivos destes projectos que afectarão a vida de várias gerações futuras de portugueses e da evolução dos custos efectivos dos mesmos.
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Nada, ou quase nada, disso acontece. O ministro invoca que os estudos feitos estão disponíveis mas a sua discussão, que deveria ser feita em sede própria - e, em regime democrático a sede própria chama-se, ou deveria chamar-se, Assembleia da República - transfere-se para debates soltos e, geralmente, partidarizados nos media. Nesta, como em muitas outras situações em que está em causa a avaliação económica das políticas dos governos, a Assembleia da República demite-se da discussão, que deveria ser de esclarecimento dos portugueses, para a transformar num despique partidário, um "prós e contras" com palmas de outros assistentes, a maioria dos quais sem independência nem competência opinativa.
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Haverá TGV por várias razões mas não porque os relatórios justifiquem a sua viabilidade financeira: tal e qual como um brinquedo de luxo comprado por capricho de uma família altamente endividada.
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Questionado a comentar o discurso do PR acerca dos investimentos públicos em curso e projectados, o ministro respondeu concordar com o PR, e a prová-lo estavam os estudos realizados, que conferem viabilidade e interesse público a esses investimentos. Trata-se de uma fórmula recorrente deste e dos outros governos: geralmente concordam fazendo do discurso do PR a interpretação que lhes convém. Por "dever de reserva", o PR é sempre o penúltimo a falar.

2 comments:

A Chata said...

"A partidarite inquina qualquer objectividade"

Será?
Ou serão os valores a 'embolsar' no negócio?

Rui Fonseca said...

"Ou serão os valores a 'embolsar' no negócio?"

Também. Mas a grande maioria dos que batem palmas ficam a ver navios. Quem embolsa, embolsa em águas profundas.