Saturday, August 16, 2008

MADE IN CHINA


É uma desgraça», afirmou Wang acerca do caso do playback*. A voz que ouvimos era de outra garota que tinha sido seleccionada pela qualidade da mesma mas, que foi substituida por ter, como é habitual nestas idades, os dentes ligeiramente tortos.**
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Foi muito comentado, e reprovado, o caso do playback da menina chinesa apresentada na abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim. Por razões idênticas, foi também muito criticado o facto de terem os chineses manipulado os efeitos visuais, transmitidos pela televisão, do fogo de artifício e da representação das diferentes etnias ter sido feita apenas por crianças da etnia maioritária. Muito provavelmente, ouve outras simulações e truques, mas estes três exemplos são mais do que suficientes para podermos fazer uma apreciação do que está em causa.
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E o que está em causa, isto é, do que estamos a falar é da forma como foi produzido um espectáculo e dos recursos e artifícios que foram utilizados na sua montagem. Um espectáculo que abriu, mais do que uma suprema manifestação desportiva, um negócio em larga escala. Do espírito amador que começou por animar os jogos da era moderna, os jogos evoluíram para um negócio espectacular em que participam atletas hiperprofissionalizados. Nenhum outro sector de actividade económica congrega tanta intensidade de esforço individual e colectivo. Assim sendo, nada é amador porque nenhum erro pode ser cometido por falta de ensaio suficiente para garantir o sucesso do negócio. Um requisito indispensável que, neste caso, foi potenciado pelo facto de a China querer aproveitar os jogos, e por isso mesmo se candidatou com indisfarçado interesse, para afirmar a sua condição de potência emergente incontornável.
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Se uma menina cantou e outra gesticulou, foi porque assim foi entendido como mais conveniente à encenação pretendida. Aliás, se aceitámos que em "Música no Coração" ou "West Side Story", e tantos outros, criados há dezenas de anos atrás, os protagonistas fossem dobrados por cantores profissionais, porque razão censuramos agora os chineses por fazerem o mesmo? O negócio do entretenimento é basicamente um negócio da ilusão. E nada é mais contraproducente, para quem assiste a um espectáculo de ilusionismo, passar todo o tempo a pensar onde está o truque.
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Ontem foi batido mais uma vez o recorde dos 100 metros. Para quê?
A tal pergunta que, quando é feita, estraga o espectáculo.
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*www.wangxiaofeng.net, endereço do blogue citado por António.
**Comentário de AChata

3 comments:

António said...

Boa tarde.
Está bem visto e também está ser visto, (não por mim, que deliberadamente não assisti nem assisto, por causa de umas e de outras) que as coisas lhes estão a correr bem.
Muito pelo contrário, a fancaria que lhes enviámos está a dar o berro por todos os lados, talvez não por um ou dois, e é coisa que alguém de olhos em bico viu com antecedência pegando na representação multi... portuguesa para fazer chacota mundial.
Os chinocas manipularam, deram ideia de uma coisa quando ela é outra.
E aqui este paraíso a SW da Europa, o que fez?
Pior, ou melhor?
Sabe?

Luís Aguiar-Conraria said...

estou totalmente de acordo contigo

A Chata said...

Tem toda a razão quando diz que o em questões de espectaculos se tem ultrapassado todos os limites da decencia e etica e nem foram os chineses os primeiros a fazê-lo (limitaram-se a aprender com o ocidente e ultrapassa-lo).
O que me chocou neste caso, foi tratar-se de crianças.
Deixaram s criança que fez 'playback' dar entrevistas e aceitar elogios à qualidade da sua voz como se tivesse sido ela a cantar.
Só quando a informação do que realmente se passou veio a lume é que foram obrigados a reconhecer o facto da substituição.
Que cultura é esta que envolve crianças em esquemas manhosos por uma questão de 'espectaculo visualmente perfeito'?
Como se terão sentido estas duas meninas?

"China querer aproveitar os jogos, e por isso mesmo se candidatou com indisfarçado interesse, para afirmar a sua condição de potência emergente incontornável"

Emergente?

Quem controla a divida externa dos EUA?
Quem 'invadiu' África e está a controlar os seus recursos?
Quem controla o comercio na Europa e EUA, onde praticamente tudo o que se compra é Made in China?
Quem tem reservas monetárias astronomicas?
Quem tem um poder militar que, segundo relatório do Pentagono, tem estado a crescer e modernizar-se continuamente nestes últimos anos?

Parece-me que a emergência já se deu e estes jogos foram apenas uma primeira demonstração disso.

Reparou como os chefes de estado dos vários países da Europa e EUA parecem caminhar sobre ovos cada vez que resolvem fazer alguma critica à China?