Há dias ouvi na rádio um graduado da polícia argumentar que a segurança é também uma responsabilidade dos cidadãos, que devem colaborar com as forças policiais na prevenção e repressão da criminalidade. Ao repórter que ouvia o graduado impunha-se, desde logo, a obrigação profissional de perguntar: Como? Mas não o fez. E não o fez porque fosse óbvia a resposta ou a afirmação fosse de circunstância mas, muito provavelmente, naturalmente não lhe ocorreu que é no como que se escondem as dificuldades na execução das ideias, mesmo das mais brilhantes. E ficámos sem saber onde queria chegar o graduado. Que os cidadãos têm obrigações de cooperação com as autoridades de segurança, todos, ou quase todos, achamos que sim. Já as formas como essa cooperação se deve concretizar constituem matéria sensível num país ainda a ruminar desconfiança relativamente às polícias e mais propenso a simpatizar com o transgressor do que com o autuante.
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E, no entanto, se, por interesse próprio e da colectividade, o cidadão deve cooperar com as polícias no sentido de aumentar a segurança interna, polícias que, ainda segundo o graduado, não podem estar em toda a parte, sou levado a concluir que a cooperação solicitada só pode passar pela denúncia às autoridades das situações presenciadas pelos cidadãos que a estes pareçam suspeitas de atacar a segurança pretendida.
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Bufaria!, é a acusação, por parte de muitos, que o graduado receberia se tivesse respondido à pergunta que o repórter não fez.
Tudo como dantes: Parafraseando Lampedusa, diz-se alguma coisa para que tudo fique na mesma.
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