O Paulino era um pitagórico sem ressalvas: para ele, tudo era uma questão de números. Mesmo os sentimentos mais suspirativos explicavam-se, segundo o Paulino, com uma subtil avaliação numérica. Eu, que nunca me embrenhei a fundo na exploração dos eventuais furos da teoria, que os terá, vou-a aplicando na análise de alguns aspectos corriqueiros da sociedade circundante.
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Ontem o Sporting já tinha levado uma abada durante a primeira parte, ainda que aquele pénalti pudesse ser outra coisa. Após o intervalo, os merengues tinham enchido o papo, e os lagartos mostraram que, de vez em quando, também metem o seu golo. E o resultado deixou de ser o escândalo que ameaçava ser.
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E, no entanto, o que seria completamente anormal seria uma vitória sportinguista. Porquê?
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Segundo o amigo Paulino, ganham geralmente os melhores. Pode acontecer, aqui a ali, tropeçarem os mais capazes nos menos habilitados, mas é caso raro. Ora os melhores, ainda segundo o Paulino, são os mais caros. É assim com tudo, desde os aviões aos rabanetes. Há excepções, mas a regra é essa, porque bom e barato deixou de fazer-se. Finalmente, assegura o Paulino se o bom é caro, só compra o bom quem tem com quê.
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O Real Madrid é o clube mais rico do mundo, ou se não é anda por lá muito perto. E o Sporting? Comparado com o Real é um teso. Daí que não pode o Sporting colocar sobre o relvado recursos equiparáveis ao Real. E não podendo, o mais provável é que perca. Pode, evidentemente, acontecer a excepção e ganhar o Sporting ao Real e o Cabeça Gorda ao Sporting. Mas são acasos.
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O futebol são números, segundo o Paulino. O resto é fé*.
Parece que a fé move montanhas mas só por acaso ganha jogos de futebol.
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* Dedico este post ao meu irmão que é um homem de muita fé sportinguista
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