A Costa da Caparica foi sempre mal tratada mas nem por isso deixou de acolher as multidões que, por uma razão ou outra, geralmente porque o ordenado é mais curto que o mês, atravessam a ponte à procura de uma nesga de areia na areia que resta. Hà já alguns anos, decidiu a câmara de Almada acabar com o canal que drenava as águas a céu aberto colocando condutas e alargando a via principal entre a Costa e a Trafaria. A Costa ganhou muito com este trabalho mas permaneceram muitas mazelas, entre as quais o assalto da mata feito por habitações clandestinas nos últimos anos. A Costa tinha progredido por um lado e regredido por muitos outros.
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Depois chegou o projecto Pólis. Mais ou menos ao mesmo tempo que os caprichos da Natureza ou a inépcia dos homens começava a retirar a areia às praias. As areias têm sido repostas por sucções ao largo em Agosto que desaparecem em Fevereiro. A mata foi desbastada, plantadas árvores novas, e contruídos parques infantis, instalações sanitárias, e dezenas de espaços para restauração e comércios turísticos.
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A Costa nunca foi destino das classes altas, daqueles que dispõem de recursos e estão dispostos a almoçar ou jantar em restaurantes à beira-mar. Existem meia dúzia de restaurantes de características geralmente populares, mais que suficientes para a procura que se junta nos meses de maior afluência às praias. Pois bem: Quem projectou o Pólis para a Costa calculou que, eles lá saberão porquê, a Caparica estava a precisar de umas mais umas dezenas de novos espaços, clonados e modernaços.
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Segundo parece, os Pólis-Gestores acreditam que criando oferta aparecerá a procura.
Se a fé que os inspirou os desiludir, não serão eles que pagarão a factura do erro de pontaria.
É assim que (não) funciona a economia quando não funciona o mercado.
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