Tuesday, July 10, 2007

O TÚNEL - 2

Santana Lopes fez do túnel das Amoreiras cabeça de cartaz da sua campanha para a Câmara de Lisboa com os olhos postos no país. É muito provável que, por essa altura, ele ainda não soubesse das diligências do seu amigo Durão Barroso nem sonhasse que daí a uns meses seria primeiro-ministro. Em todo o caso, qualquer político com assento na fila da frente, sonha sempre mais alto. Daí que, qualquer candidato a presidente de uma câmara municipal, mesmo que essa câmara seja Lisboa, alinha a mira para além desse cargo. Santana, para impressionar o país disse a Lisboa que lhe iria oferecer o túnel das Amoreiras. O assunto nem foi discutido nem avaliado o impacto na tesouraria da Câmara, que já estava meio arrombada. Para impressionar era fundamental apresentar obra, e a obra obrou-se.
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Santana sabia, como qualquer candidato à Câmara de Lisboa sabe, que são muito mais, e cada vez mais, os que entram e saem todos os dias de Lisboa do que os que, cada vez menos habitam nela. Daí que um candidato partidário ou com aspirações para além da Câmara tomará sempre medidas que privilegiam a maioria, isto é, aqueles que entram e saem. Só assim se compreende que Lisboa tenha pago um túnel, arruinando-se nas contas, para ser mais facilmente penetrada. Só assim se compreende o laxismo na vigilância dos estacionamentos em toda a parte e muito especialmente em cima dos passeios. Só assim se compreende que a torrente de trânsito automóvel que entra diariamente na cidade tenha preferência sobre os autocarros, sem corredores suficientes.
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Só a sujeição dos candidatos a Lisboa aos desígnios, dos partidos que representam, a nível nacional, explica a total contemporização com uma lei de rendas comerciais que continua a fazer apodrecer o comércio na Baixa.
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Só a sujeição dos candidatos a Lisboa ao politicamente correcto imposto pela imagem do partido a nível nacional justifica que todos os candidatos continuem a afirmar que a Câmara não tem funcionários a mais, estão é mal distribuidos, quando qualquer comparação com entidades semelhantes em cidades europeias mostra, inequivocamente, que a relação de funcionários municipais por mil habitantes é um exagero em Lisboa.
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Santana Lopes ganharia a Câmara sem a promessa do túnel porque João Soares perdeu-a com a ameaça do elevador incrível. A sua intenção, porém, não era Lisboa, era apresentar obra. Se os candidatos às próximas eleições são mais comedidos nas promessas que envolvam dispêndios extraordinários isso deve-se ao facto de, felizmente, a Câmara estar na penúria. Se nenhum critica o túnel é porque, no lugar e no tempo de Santana Lopes, se fossem eles, fariam provavelmente o mesmo.
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Porque difícil não é construir túneis, ainda que a competência no ramo deixe muito a desejar, difícil mesmo seria recuperar a cidade. Tarefa imprescindível para aumentar a população residente em Lisboa e ocupar o espaço urbano actualmente abandonado. Tarefa que implicaria independência face ao Governo porque exigiria reclamar a adopção de medidas eventualmente impopulares. Lisboa não se renova sem essas medidas. As intervenções de recuperação da cidade exigem uma cadência que as actuais leis não consentem. Ou, as que algo consentem , não são feitas cumprir.

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