Já não é a primeira vez que a hipótese de encerramento da Estação Zootécnica de Santarém é levantada pelo ministro da agricultura. E, como sempre acontece nestes casos, as pessoas, directamente ou indirectamente envolvidas, indignam-se e protestam. O que é normal. Não seria normal que 170 pessoas, entre investigadores e pessoal de apoio, vissem ameaçados de encerramento os serviços onde maior parte trabalhou durante toda a vida sem tugir nem mugir.
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Mas já não é normal, mas acontece frequentemente, os partidos na oposição alinharem ao lado das reivindicações e dos protestos com intenções de garantirem dividendos políticos. Em princípio, quando se enuncia, em abstracto, a necessidade de reduzir o número de institutos públicos ou de reformular as suas atribuições, quase todos concordam. Quando se passa para a concretização levantam-se clamores dos mais variados quadrantes.
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Invocam-se, invariavelmente, nestes casos, os muitos anos da instituição, o número de empregos em causa, as consequências do eventual encerramento para a economia local. Tudo causas e circunstâncias respeitáveis.
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E, no entanto, muitas destas instituições só dão sinal visível de vida quando a sua continuação é posta em causa. Porque é indesmentível que o ministério da agricultura transborda de funcionários para as funções que lhe estão cometidas e não tem realizado ao longo de muitas dácadas de existência um desempenho na sociedade e na economia portuguesas de que possa legitimamente orgulhar-se. Bem pelo contrário, as suas atribuições mais visíveis têm consistido na obtenção de fundos comunitários e a sua afectação a meia dúzia de felizes contemplados.
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A agricultura portuguesa, com algumas raras excepções, tem vindo progressivamente a estiolar.
Não sendo o nosso país especialmente vocacionado para a agricultura, as políticas (ou a falta delas) no sector têm conduzido ao abandono de muitos solos que poderiam ser competitivos se explorados em dimensões económicas adequadas.
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Deste confronto de guerrilha em que se entretêm os partidos em Portugal resulta um adiamento sistemático das medidas que há muito era urgente tomar. Não admira por isso que a popularidade dos ministros em Portugal se encontre na razão inversa da sua capacidade de iniciativa e de reforma. O que faz deles, tanto na oposição como internamente, os alvos a abater.
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Porque é difusa a conta que cada um de nós paga para sustentar a ineficácia dominante. Nada de significativo mudará enquanto não se aperceberem que são em muito maior número os prejudicados (os contribuintes) dos que eventualmente abrangidos pelas reformas. Que todos acham necessárias, desde que nada mude, bem entendido.
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Enquanto o cliente não for colocado no centro das decisões o mercado será sempre distorcido e a produtividade constrangida.
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