Os resultados dos exames de matemática foram, este ano, ainda piores que os de anos anteriores, não se tendo observado qualquer efeito positivo das acções do Ministério de esforço para melhor acompanhamento da aprendizagem dos alunos. Os resultados dos 96 mil alunos que fizeram exame de matemática do 9º. ano, mais do que catastróficos, são ridículos: 24600 alunos não tiveram mais do que 1 valor numa escala de 1 a 5, e 72,8% tiveram negativa.
.
Culpados?
.
O Ministério.
Inisiste em programas e metodologias que têm sido frequentemente criticados. A ideia que o ensino é só compreensão e a memorização uma consequência, é uma treta que qualquer cidadão percebe. Se o menino não decora a tabuada nunca mais vai ser capaz de lidar à vontade com a aritmética, com o cálculo mental, com a percepção da relação das grandezas. Vai recorrer aos dedos para uma simples soma, mais tarde à máquina de calcular, se o resultado é 400 mas calculou na máquina 40, não lhe soa nenhum sinal de alarme.
.
Um dia, há muitos anos, pediram-me para dar explicações de matemática a uma jovem do 1º. ano do ensino secundário (antigo 3º. ano). Percebi, logo na primeira sessão de esclarecimento, que a menina não sabia a tabuada de cór e recomendei-lhe que, em casa, fizesse por isso. Nunca mais me apareceu. Não sei se a matemática lhe fez falta ao longo da vida. Provavelmente, não.
.
A sociedade,
A começar pelos pais, é pouco exigente. O país passou de uma situação de repressão para um ambiente de laxismo. Os pais das crianças de hoje, formaram-se nos valores da liberdade sem preço. O facilitismo, o laxismo, o salve-se quem puder, impuseram-se como norma de conduta mais gratificante, em geral. Também para eles, a matemática foi um quebra-cabeças sem utilidade. Aliás, mais do que a aquisição de conhecimentos, é aquisição de um diploma que conta. Quando conta. De modo que, preocupante, quando é preocupante, não é a qualidade do que o menino aprende mas se passa ou não passa de ano.
.
Os professores.
Muitos são incompetentes. Os que pertencem à geração dos pais das crianças tiveram formação cívica idêntica à deles. Para agravar o sentido de falta de exigência em que foram (des) norteados, o numerus clausus que tem comandado as condições de acesso ao ensino universitário tem implicado aberrações com as quais a sociedade, em geral, tem convivido da forma mais natural: muitos dos actuais professores de matemática seguiram a carreira, não por propensão para a matéria mas precisamente pela razão contrária: não conseguindo atingir as classificações que lhes permitiriam aceder a uma carreira para a qual se sentiriam mais vocacionados ou atraídos, resignam-se a entrar para um curso que lhes abre as portas sem lhes exigir boas qualificações específicas. Nestas condições o que pode esperar-se de professores formados a partir de bases oscilantes?
.
O Estado,
que recruta os seus funcionários, e, nomeadamente, os professores, sem concursos nem provas de admissão. E que não os retribui em função dos resultados alcançados.
.
Os sindicatos,
que forçaram a atribuição de remunerações e condições de trabalho que promovem a incompetência e o laxismo por ausência de responsabilidades no insucesso. Que atribuem ao Ministério a responsabilidade de todos os fracassos, recusando-se a assumir as culpas que lhes cabem no cartório.
.
Enquanto subsistir este caldo de cultura feito de promoção do faz-de-conta, dificilmente teremos a maior parte dos alunos a, pelo menos, entender o sentido das perguntas que lhes colocam nos raríssimos exames a que são submetidos. Sem essa compreensão, só por mero acaso, acertarão nas respostas. Essa compreensão, contudo, exige hábitos de leitura e de exame. Coisas que se tornaram raras nos tempos que correm.
.
A actual Ministra tem mostrado querer quebrar este ciclo vicioso feito de facilitismo e desresponsabilização. A prova provada que essa intenção é mal recebida pelos portugueses em geral está no facto de a sua popularidade estar pelas ruas da amargura. Decididamente, os portugueses querem a mudança, desde que nada mude. Decididamente, os portugueses são sempre vítimas do tiroliro.
No comments:
Post a Comment