Saramago falou para o Diário de Notícias e profetizou, ainda que negando a condição, que Portugal será um dia parte integrante de uma Espanha maior, provavelmente rebaptizada Ibéria para não ferir susceptibilidades. O augúrio, por vir de quem vem, dá um bom título e o Diário de Notícias deve ter hoje, pontualmente, aumentado a tiragem.
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Não é, contudo, quanto a mim, a parte mais interessante da entrevista. Dela, despertaram mais a minha intenção duas questões de economia pessoal: uma, onde Saramago se diz perseguido por impostos em Espanha que já pagou em Portugal, porque é patriota e os impostos paga-os cá, ainda que residindo também lá; outra, as declarações que prestou a propósito da venda da Caminho.
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Cito:
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"Foi uma surpresa porque nós criamos involuntariamente mitos e agora é que nos damos conta de que a Caminho era um mito. Também era um mito além de uma realidade, porque assumia uma figura mítica. Mas nós vivemos numa época em que a compra e venda de empresas é um fenómeno de todos os dias. Reuni-me com Paes do Amaral e alguns dos seus assessores e fiquei com uma excelente impressão porque asseguram que não vão interferir na linha editorial das editoras que constituirão o grupo. Podem opinar sobre a publicação de um livro que não lhes pareça conveniente ou necessário, mas isso tem que ser discutido com o editor. Parece, portanto, tal como se apresenta neste momento e o tom da conversa, que havia ali sinceridade, não se estava a manobrar nada. Quanto à Caminho, a conteceu-lhe aquilo que aconteceu a outras, tal como a Bertrand ao ser comprada pela alemã Bertelsmann. O mundo muda, mas penso que as editoras que vão constituir este grupo têm tudo a ganhar, depende agora do seu trabalho"
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Saramago, ou já perdeu o Norte ou já se converteu ao capitalismo e ainda não deu por isso. Ou não quer que se saiba.
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