Lendo o seu interessante artigo publicado no "Público" de ontem e no A destreza das dúvidas, hoje, somos (aqueles que prezam os valores democráticos) inevitavelmente assaltados por uma sensação de frustração inquietante: de que a demagogia (pois é disso que estamos a falar: acção que se utiliza do apoio popular para a conquista ambiciosa ou corrupta do poder) está, cada vez mais, a sobrepor-se à democracia.
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Ainda que as conclusões do estudo que refere confirmem o sentimento muito generalizado, mas, pelos vistos, pouco apreendido nas suas consequências negativas, por parte das populações relativamente ao oportunismo com que são geridos os fundos públicos, são mais que pertinentes o estudo e a divulgação das suas conclusões. Tão pertinentes, que merecem que volte, logo que possa, ao tema. A bem da democracia.
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Há, contudo, dois pontos que me suscitam algumas questões:
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Adam Smith preconizou que, actuando os indivíduos segundo a prossecução dos seus interesses próprios (propensão egoísta) dessa actuação resulta, inevitavelmente, o benefício dos outros indivíduos, globalmente considerados.
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Ora, no caso da gestão municipal, parece estarmos perante uma anulação dos efeitos da mão invisível: os autarcas, ao intervirem segundo os seus próprios interesses (de sustentação no poder) delapidam, sem contrapartidas, frequentemente, os interesses das comunidades que governam.
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Tal derrogação da Lei de Smith não parece senão resultar do facto de não se estabelecer na relação autárquica uma acção negocial. Os autarcas intervêm no corpo social anestesiado porque aos munícipes não são cobrados directamente pelos autarcas os impostos com que realizam os seus malabarismos demagógicos. Esta questão tem sido já levantada mas, como a poeira, volta ao mesmo sítio.
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Por outro lado, tenho alguma dificuldade em perceber o salto dedutivo que, no seu artigo, faz dos autarcas para os governos centrais.
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Porque, se o que explica o ciclo do oportunismo, é a propensão egoísta dos indivíduos, não sujeita aos freios dos negócios, teríamos que, para aceitar a tese da segunda parte, contraditar a tese da primeira.
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Explico-me melhor: Se a esquerda é menos egoísta que a direita, forçosamente essa diferença deveria também ser ressaltada nas conclusões do estudo de Linda e Veiga. É? V. não refere.
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Se não é, não deverá atribuir-se a outras razões?
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Ainda que as conclusões do estudo que refere confirmem o sentimento muito generalizado, mas, pelos vistos, pouco apreendido nas suas consequências negativas, por parte das populações relativamente ao oportunismo com que são geridos os fundos públicos, são mais que pertinentes o estudo e a divulgação das suas conclusões. Tão pertinentes, que merecem que volte, logo que possa, ao tema. A bem da democracia.
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Há, contudo, dois pontos que me suscitam algumas questões:
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Adam Smith preconizou que, actuando os indivíduos segundo a prossecução dos seus interesses próprios (propensão egoísta) dessa actuação resulta, inevitavelmente, o benefício dos outros indivíduos, globalmente considerados.
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Ora, no caso da gestão municipal, parece estarmos perante uma anulação dos efeitos da mão invisível: os autarcas, ao intervirem segundo os seus próprios interesses (de sustentação no poder) delapidam, sem contrapartidas, frequentemente, os interesses das comunidades que governam.
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Tal derrogação da Lei de Smith não parece senão resultar do facto de não se estabelecer na relação autárquica uma acção negocial. Os autarcas intervêm no corpo social anestesiado porque aos munícipes não são cobrados directamente pelos autarcas os impostos com que realizam os seus malabarismos demagógicos. Esta questão tem sido já levantada mas, como a poeira, volta ao mesmo sítio.
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Por outro lado, tenho alguma dificuldade em perceber o salto dedutivo que, no seu artigo, faz dos autarcas para os governos centrais.
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Porque, se o que explica o ciclo do oportunismo, é a propensão egoísta dos indivíduos, não sujeita aos freios dos negócios, teríamos que, para aceitar a tese da segunda parte, contraditar a tese da primeira.
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Explico-me melhor: Se a esquerda é menos egoísta que a direita, forçosamente essa diferença deveria também ser ressaltada nas conclusões do estudo de Linda e Veiga. É? V. não refere.
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Se não é, não deverá atribuir-se a outras razões?
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