Que os liberais velhos (mas não os velhos liberais) sejam avessos a tudo o que possa empecilhar-lhes os negócios, percebe-se. Percebe-se porque, sendo velhos, para além da liberdade de continuar a amontoar cobres ou ouros, não só não reclamam outra como reclamam contra qualquer outra.
Que os jovens liberais se recusem a acreditar nos mil e um testemunhos que, sem truques de montagens nem batotas nas contas, mostram até que ponto o nosso planeta está ser irremediavelmente atacado pela acção predadora humana, e que, mais estranho ainda, façam das erráticas variações climatéricas motivo de chacota é, no mínimo, intrigante.
Poder-se-á explicar sempre este comportamento de uma franja da sociedade jovem como uma corrente inversa, que em todos os tempos e todas as sociedades, sempre se estabelece contra a corrente principal. Acontece, contudo, que a corrente principal não é sequer corrente porque para a maior parte da população (e, nomeadamente, para a maioria da população portuguesa) os problemas do ambiente não os mobilizam para qualquer atitude pró-ambiental. Os jovens neoliberais assumem-se, portanto, não em contracorrente, o que poderia ter efeitos dialécticos saudáveis, mas de forma reaccionária contra a mudança.
O que, atendendo à sua juventude, não pode se não pressupor-se que os picou um retro vírus que os torna, surpreendentemente, adeptos do princípio da colectivização da irresponsabilidade total: o princípio que consagra o direito de que cada sociedade em geral, e cada indivíduo em particular, poluir quanto e como quiser porque as consequências destruidoras dos seus actos são tretas formatadas por alguns imbecis fanáticos.
O termo colectivização, neste caso, está longe de ser gratuito: foi, precisamente, nas sociedades que adoptaram modelos de colectivização da produção que ocorreram, em simultâneo com essa colectivização, as formas colectivas mais generalizadas de irresponsabilidade ambiental.
É evidente que toda a ideologia (e a ecologia também é uma ideologia) acaba por segregar os seus fanatismos.
Mas não se combatem os fanatismos combatendo as evidências. Os jovens que chacoteiam das preocupações ambientalistas não se posicionam à frente mas lado a lado dos velhos a quem o ambiente nunca disse nada.
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