Thursday, February 15, 2007

1969, 28 de Fevereiro

Morava na Rua da Condessa, ali ao Carmo, o quarto dava para o Rossio, dali sobrevoava o Imperador e a pomba de serviço a coroar Dom Pedro (que talvez seja o Maximiliano do México) com os seus eflúvios ácidos.
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Tinha adormecido tarde, a trabalhar e a estudar, aumentava o horário acordado à custa de bicas seguidas, no Palladium.
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De repente, acordo e salto da cama, que não era elástica mas fez por isso. Instintivamente, atirei-me para debaixo da ombreira da janela, que era larga. Nas paredes, que tinham cerca de um metro, roncavam as pedras um ressonar que parecia vir do centro do mundo.
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Olhei para o Rossio e Dom Pedro parecia vir ao meu encontro e eu ao encontro de Dom Pedro, num movimento que ameaçava levar tudo por ali abaixo.
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Engolimos um susto valente, fomos para a rua, passado pouco tempo o susto estava digerido; Na rua, as pessoas andaram a cirandar de um lado para outro até ao nascer do sol, felizes só por estarem vivas.
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Provavelmente nunca se sentiram tão iguais;
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Apontamento em

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