Friday, May 27, 2016

DE QUEM É A TROPA?

A notícia foi, de modo muito bem observado, comentada aqui.
Mas não mobiliza o sentido cívico colectivo dos portugueses que se embasbacam com o persistente obrar de muitos governantes para proveito próprio, pelo menos sobre a forma de votos recolhidos, e dos obradores de obra nova. 




A mim, que um dia, vindo de uma aldeia, há muitos anos já, desembarquei numa Lisboa que me chocou pela degradação urbana, pela extensão das áreas ocupadas por barracas, pelo número de famílias a viver num quarto, continua a perturbar-me a generalizada insensibilidade das pessoas perante situações de desaproveitamento evidente de construções e terrenos pertencentes ao Estado, além da tolerância perante as situações expectantes de propriedades privadas degradadas e abandonadas. 


De todos estes (muitos) casos aberrantes, pela sua extensão e centralidade, destaco todo aquele espaço ladeado de muros pinchados na Conselheiro Fernando de Sousa, Artilharia Um, Marquês de Fronteira e Duarte Pacheco Pereira.
Aquilo, não encontro qualificativo mais apropriado, é um nojo. 
Dizem-me: é da tropa.
E de quem é a tropa?

Ainda a propósito desta incontida vontade obradora dos nossos governantes para eleitor ver:
Quem agora, e não sabemos por quanto tempo, tenha de percorrer em viatura a via central de Lisboa, desde o Marquês até ao Campo Grande, vê-se obrigado a circular entre obras de que não se vislumbra o mérito. Sobretudo não se compreende como se aplicam recursos, certamente escassos, em obras que não resolverão o problema do congestionamento de trânsito na cidade. Porque este só se reduz reduzindo o número de viaturas que nela entram todos dos dias. Mas esta redução só acontecerá se restringirem as entradas, actuando sobre os acessos ferroviários ou, preferivelmente, criando condições de mais habitabilidade na cidade. Onde há ainda bastante espaço disponível e prédios degradados à espera que os reabilitem. É uma questão que exige soluções políticas que, se forem as adequadas, não implicam encargos para o OE. 

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Rectificação:

Disse-me um amigo, hoje, 31 de Maio, que os terrenos a que me refiro neste apontamento "já não são da tropa". Foram vendidos há cerca de 10 anos a um coleccionador de terrenos expectantes. Que compra e deixa ficar à espera que a expectância lhe multiplique convenientemente o investimento. 
- E não assumiu nenhuma obrigação de construir em tempo razoável?
- Pois, parece que não.  Mudaram-se as moscas mas o nojo é o mesmo.
- E ninguém mais dá por ele.

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