Wednesday, May 04, 2016

ULRICO

O presidente executivo do BPI disse ontem aos socialistas, de portas abertas ao sector bancário para conversas, que "a consolidação da banca é a única saída para a crise" . 



Da banca, supõe-se, porque a banca engendrou a crise, importando crédito que a economia nunca teria capacidade de reembolsar, embolsando os banqueiros prémios por resultados contrafeitos, expandindo-se em balcões em cada esquina, não raras vezes de um do outro lado da rua, tolerando-se mutuamente em todas as manobras dos membros da corporação, faz lá tu as tuas moscambilhas e deixa-me a mim fazer as minhas. O que é que eles discutiam e combinavam na associação corporativa, não sabemos, o que sabemos é que andaram largos a fazer de conta que a economia não tem leis. Mas tem, e a vaca tísica acabou por lhes cair em cima. Nada que não fosse previsível, nada que até neste caderno, desde as primeiras notas, há dez anos, não tivesse sido apontado.

Agora, só agora, o sr. Ulrich, conclui aquilo que há tanto tempo era evidente: havia banca a mais para o tamanho da mesa. O que pensam os outros?  É neste ponto que a porca torce o rabo.

A Caixa não pensa. A publicar prejuízos há cinco anos a fio, precisa que o governo lhe entregue mais dinheiro dos contribuintes depois de há, apenas, três anos ter recebido fundos para recapitalização sob a forma de aumento de capital e de um empréstimo reembolsável de que ainda não reembolsou um cêntimo. O novo presidente condicionou a aceitação da incumbência na condição de lhe ser permitido aumentar as retribuições, e o governo aceitou sem que se conheça qualquer reciprocidade de compromissos de objectivos. A Caixa absorveu há anos o Banco Nacional Ultramarino mas só cresceu em tamanho. Demonstradamente, não tem tradição nem competência para ser o La Caixa português.
Há quem proponha a nacionalização do Novo Banco - "já que o dinheiro já lá está, o melhor é ficar com ele" - mas da fusão com a Caixa só resultariam ganhos de produtividade se fosse drasticamente reduzido o quadro conjunto de pessoal, uma hipótese inviável para um governo suportado pela asa esquerda do parlamento.

O Santander estará alegremente de acordo na expectativa de lhe calhar na rifa mais um brinde tipo Banif.

O BPI do sr. Ulrich será, tudo aponta nesse sentido, a médio prazo, se não mesmo imediato, uma filial, de facto, do La Caixa. E o sr. Ulrich o seu representante em Portugal por mais algum tempo. Estará o sr. Ulrich a considerar uma eventual integração do Novo Banco no grupo La Caixa como um negócio de consolidação da banca portuguesa? Só por ironia.

O presidente do BCP diz que sim, que quer o Novo Banco. Se não há duas sem três, o BCP tem boas hipóteses de ser contemplado depois dos salvados do BPN terem sido vendidos por nada ao BIC e os do Banif por quase nada ao Santander. Num e noutro caso, a sucata ficou a preço de ouro do lado dos contribuintes

Resumindo: Aquilo a que o sr. Ulrich chama consolidação só resultará em ganhos de sinergia com redução de custos em meios, sobretudo meios humanos. Terá o PS entendido a mensagem?

É complicado, sobretudo para um governo todo à esquerda.

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