Thursday, April 03, 2014

O PODER DA PALAVRA DE DRAGHI

Quando Draghi afirmou em Julho de 2012 que "faria tudo para defender o euro, e que, acreditassem, isso seria suficiente", provocou o início do recuo da galopada dos juros implícitos das dívidas soberanas dos países mais fragilizados nos mercados secundários. Hoje, disse que a compra de dívida pública e privada, conhecida como "quantitative easing" (programa de expansão monetária), tinha sido discutida na reunião do Conselho de Governadores, existindo unanimidade em torno da necessidade de utilizar mais medidas não convencionais tendo como objectivo lidar com um longo período de inflação baixa, ou, dito de outro modo, evitar a deflação na zona euro. E a confirmação da tendência de queda dos juros manifestou-se imediatamente.

Nada de imprevisível. Sabe-se que os países financeiramente mais fragilizados pagaram com língua de palmo o preço da ausência de um banco central na zona euro com capacidade para eventualmente intervir como financiador de último recurso. E foram os efeitos perversos de uma política monetária manifestamente desagregadora da União, que fustigou os mais débeis e favoreceu os mais ricos - a Alemanha, entretanto, financiou-se a taxas negativas com capitais refugiados em consequência daquela política -, ameaçando a implosão da zona euro há dois anos atrás e, agora, a uma crise deflacionista na União Europeia, que permitiram a Draghi ganhar espaço de manobra junto dos guardiões do Bunbesbank. 

Gavyn Davies, multimilionário (ex-Goldman Sachs, ex-BBC, entre outras posições confortáveis) comentou há duas horas atrás, no FT, como habitualmente, as declarações de Draghi. "ECB adresses the lower bound" vale bem uma leitura atenta. Vindo de quem vem, a opinião de G Davies poderá soar suspeita aos ouvidos de alguns. Mas é difícil não concordar com as suas afirmações finais: "Subsistem ainda muitos riscos... E o QE poderá não funcionar  em algumas situações... No entanto, o BCE atravessou um outro Ribicão. É difícil imaginar Jean-Caude Trichet a proferir as palavras que o sr. Draghi disse hoje."

Discute-se muito se no próximo mês Portugal optará por uma saída de cabeça ao léu ou com chapéu de chuva, mas é uma conversa de impotentes porque os factores decisivos são dominados a partir de Berlim. 
E Frankfurt, segundo parece agora. 

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