Tuesday, June 11, 2013

EURO IDEIAS

O jornal i  publica hoje "O labirinto das ideias sobre o euro" de Pedro Lains de refutação da premissa assumida pelo governo no preâmbulo do "Documento de Estratégia Orçamental 2013-2017":
 
"A crise das dívidas soberanas expôs os desequilíbrios macroeconómicos e vulnerabilidades acumulados em alguns estados participantes na área do euro. Portugal foi um deles. Mas as causas últimas da crise nacional residem na incapacidade de adaptação da sociedade portuguesa às realidades da vida económica e financeira na área do euro."
 
E, a propósito, cita Vítor Bento, "um economista que se tem mostrado identificado com as correntes escolhas de política financeira, (e que) publicou recentemente um livro (Euro forte, euro fraco) que abre com um pensamento em tudo semelhante": Depois de reconhecer a importância do contexto internacional na crise do euro, escreve que "a sua origem genética está nas contradições intrínsecas da própria zona", a saber, "a moralidade social prevalecente no Norte da Europa tende a ser mais exigente com o cumprimento de normas e, nomeadamente, fiscais [?] Nos países do Sul, a moralidade social é mais tolerante com este tipo de desvios comportamentais".
 
Há no texto de Pedro Lains uma interrogação inicial (Quando Vítor Bento nos diz que em Portugal prevalece uma "moralidade social tolerante com desvios fiscais", não se apercebe que está apenas a fazer um juízo de valor com implicações sobre a verdadeira possibilidade de Portugal estar no euro?) e uma afirmação final (Afinal o crédito foi tanto adquirido como oferecido e os ofertantes, isto é, o sector financeiro, tem de estar dentro e não fora da análise das causas da crise do euro, assim como da sua solução) que sintetizam bem as diferenças de leitura das causas da crise  entre Lains e Bento, e que, grosso modo, determinam a fractura entre duas correntes de julgamento dos motivadores da crise.
 
Da leitura do livro de Bento não retirei que haja necessariamente uma conclusão identificável com  aquela que o ministro das Finanças expressa no DEO. Em todo o caso, a pergunta de Lains é perturbante porque o texto da responsabilidade de Vítor Gaspar permite-a sem margem para dúvidas: se há na sociedade portuguesa "uma incapacidade de adaptação às realidades da vida económica e financeira na área do euro", por que bulas se insiste em querer estar nele?
 
Ou a razão é diferente e os culpados são outros (um edifício inacabado derrubado pela ganância dos banqueiros de braço dado com a demagogia política) ou a nossa presença no euro não passa de um exercício de masoquismo por incapacidade congénita de observar padrões de comportamento a que fomos (ou somos?) rebeldes.

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