Wednesday, February 27, 2013

SEMPRE A MESMA CONVERSA

 A senhora Christine Lagarde terá dito ao senhor A J Seguro que "ajustamento e crescimento é difícil", que a "delegação do FMI em Portugal tem, aliás, como objectivo, assegurar esse crescimento e e emprego, e que a sustentabilidade das finanças públicas é essencial para evitar uma crise económica mais profunda que poderia criar tensões na sociedade portuguesa". A senhora Lagarde tem dias: nuns, recomenda cautelas com as políticas de austeridade, noutros continua a receitar mais do mesmo.
 
Percebe-se a volatilidade do discurso da senhora: por um lado, ela sabe que a receita do FMI não está a resultar, nem vai resultar, considerando as circunstâncias; por outro, sabe que o objectivo prioritário, mal escondido, da intervenção da troica é safar o sistema financeiro do beco em que nos meteu. 
 
Acontece que quanto mais de adiam as soluções radicais mais se complicam as medidas dilatórias. A troica pode continuar a insistir e o governo a ceder mas a situação de crise complicar-se-á enquanto não for reconhecido pela senhoras Merkel & Lagarde que, se é certo que Portugal (e os outros países com problemas afins) tem de reequilibrar as suas contas públicas, esse reequilíbrio é impossível num contexto recessivo para uma economia estruturalmente frágil. Salvo se o único corte de despesa que pode decisivamente inverter a tendência imparavelmente recessiva for consentido pelos credores: a redução dos custos da dívida até ao ponto em que esta pode começar a ser efectivamente amortizada. Caso contrário, nem saímos do atoleiro nem os credores recebem.
 
Tudo o resto pode ser muito razoável mas é, nas actuais circunstâncias, irrealizável ou não decisivamente capaz de alterar a progressão da dívida em tempo útil. Chega mais um ano para o ajustamento défice? Não chega nem faz por isso. A solução, só não vê quem não quer ver, não passa pelo aumento do período de ajustamento e, o mesmo é dizer neste caso, de recessão. Até porque as tão badaladas quanto etéreas medidas para o crescimento e emprego não se encontram ao virar da esquina assim de um dia para o outro. O equilíbrio entre austeridade e crescimento pretendido por Lagarde só é possível se o peso da dívida não continuar a furar todos os programas.
 
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Correl. -
Cada português vai pagar em média 732 euros por conta dos juros da dívida pública, no próximo ano. Cada família vai ser chamada a desembolsar mais de 1.900 euros em 2014.
Os valores correspondem a um aumento anual de quase 8 por cento e mais 56 por cento face ao período anterior ao plano de ajustamento, segundo o jornal «Diário de Notícias».
O conjunto total dos juros irá valer quase oito mil milhões de euros no próximo ano.
As contas têm por base os dados atualizados da Comissão Europeia.

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