Friday, February 22, 2013

QUEM SUSTENTA QUEM

O título maior da primeira página do Público de hoje  afirma que "Banca portuguesa sustentou dívida do Estado no ano passado". O que não constitui novidade porque há muito se sabe que os bancos estrangeiros, com destaque para os alemães e os franceses há muito que vêm reduzindo a sua exposição à dívida soberana portuguesa, fazendo o que em português prosaico se costuma designar por "tirar o cavalo da chuva". Mas é também por demais sabido que os bancos portugueses não têm fòlego para arcar com a carga por conta própria.  

A retirada dos bancos estrangeiros só é possível com a intervenção do BCE numa engenharia financeira multilateral que, em última instância, envolve o Estado e os bancos portugueses num contrato de responsabilidades recíprocas garantido pela capacidade do governo extorquir aos contribuintes os recursos necessários ao pagamento dos compromissos assumidos. No dia em que do limão não for possível obter mais sumo, o que é que acontece? Ninguém sabe, mas muitos fazem prognósticos. Até lá, são os próprios bancos portugueses que quererão sacar o máximo do negócio para, também eles, se libertarem o mais possível.
 
Ainda recentemente, BES e BPI anunciaram resultados positivos em 2012  em grande parte resultantes de margens obtidas com a dívida pública portuguesa. A habilidade é um segredo de polichinelo que, no entanto, ao mesmo tempo que contribui para afundar ainda mais o credor - o Estado -, pode não safar a tempo os casos mais complicados: Banif e, muito principalmente pela sua dimensão, o BCP. 
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De tudo isto se infere que se "a banca portuguesa sustentou a dívida do Estado no ano passado",
não é menos verdade que "no ano passado a dívida do Estado sustentou a banca  portuguesa". Não foi, no entanto, alimento suficiente para alguns. Para a Caixa, por exemplo.
E a questão de sempre subsiste: Até quando pode uma marrã tísica continuar a engordar tantos e tão ávidos sugadores?

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