Saturday, December 15, 2012

"PLEASE SAY IT´S NOT MINE"

O comentário saiu-me frouxo, ao lado do que realmente se sente perante um horror tão desmedido. Procuramos as palavras que sintetizem o pensamento mas a pluralidade de sentimentos não se conforma numa frase perfeita. Podem a dor e alegria conviver no mesmo instante ou a miscibilidade é impossível? E o que, realmente, sentimos perante a tragédia alheia é um sentimento de horror onde o medo é mais preponderante que a dor? Um dos títulos das reportagens no Washington Post de hoje sobre o  massacre de ontem em Newtown Connecticut - "Please say it´s not mine" - penso que traduz essa ambiguidade entre as palavras e os sentimentos mais profundos da condição humana.

Se assim não fosse, se a dor de uns contagiasse em medida idêntica os sentimentos dos outros, as percepções humanas seriam tão diferentes que, provavelmente, nunca haveria alegria num mundo que se tornou numa aldeia onde o turbilhão das desgraças não sossega um instante. A rotina das notícias banalizou os escândalos e os acidentes, mesmo os de maior dimensão, e endureceu a carapaça de indiferença com que se protege a resistência psíquica do bicho homem. Se assim não fosse as armas da aldeia global já teriam sido todas destruidas, mas, pelo contrário, há cada vez há mais.

De quem é a culpa, neste caso?
Do desequilibrado mental, autor material de uma monstruosidade sem qualificativo suficiente? 
Da mãe, primeira vítima do filho, coleccionadora de armas, sabe-se lá se em obediência a uma tara qualquer?   
Do pai, que se divorcia da mãe, vai para outras paragens e deixa o filho reconhecidamente mentalmente doente entregue à mãe, e uma colecção de armas e munições à disposição do filho?
Do "partido das armas", com mais partidários republicanos que democratas, mas em todo o caso transversal, que se opõe à restrição da venda e uso de armas de qualquer calibre?
Ou do povo norte-americano que, maioritariamente, apoia o "partido das armas"?

Em democracia, o povo é soberano. Se a venda e uso de armas nos EUA não merecesse o favorecimento maioritário do seu povo, estes casos não deixariam de ocorrer, mas ocorreriam, certamente, com muito menor frequência. A dor expressa ontem pelo Presidente Obama é certamente sincera da sua parte, mas não representa, neste caso, a nação inteira.  

No comments: