Monday, December 24, 2012

MUDAM-SE OS TEMPOS, NÃO SE MUDAM OS HOMENS

“Viveis tempos interessantes. (…) Os tempos interessantes são sempre tempos enigmáticos que não prometem descanso, nem prosperidade, continuidade nem segurança. (…) Nunca a humanidade juntou tanto poder e tanta desordem, tanta apreensão e tantas diversões, tanto conhecimento e tanta incerteza.” - Paul Valéry, cit. aqui 


É, e será sempre, inevitavelmente assim.
O futuro é, por inerência, incerteza. Incerteza e futuro, não sendo a mesma entidade, andam de mãos dadas. Mesmo quando a incerteza, o futuro, se reporta a uma descoberta do passado. Aliás, todo o conhecimento científico é sempre uma revelação ou aplicação de uma realidade que existiu sempre.

Essa revelação descreve uma sinusoidal crescente de desenvolvimento humano que só terminará se a humanidade, por aplicação diabólica  do conhecimento, se auto destruir.

A citação de autores passados maravilha-nos pela pontaria certeira com que descrevem a fase do ciclo que vivenciaram levando-nos a pensar que anteciparam o futuro ou, dito de outro modo, congelaram o presente. Mas não é verdade. O homem tem uma capacidade enorme para mudar o mundo mas uma incapacidade não menos enorme para se mudar a ele próprio. É desse desfasamento de velocidades que resulta a aparente repetição da história.

O recente massacre de Newtown é um exemplo da incapacidade humana para, colectivamente, mudar de atitudes. Os EUA são a nação mais rica e poderosa da aldeia global, aquela onde mais despontam os progressos do conhecimento humano, onde a convivência inter racial é mais intensa e mais pacífica, onde um intenso orgulho de identidade nacional une mais de 300 milhões de pessoas. Como é possível que um universo sociológico tão diverso e tão coeso permaneça dividido acerca de um problema que sucessivas tragédias deveriam há muito ter congregado um consenso? 

Só há uma explicação para o absurdo: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades individuais, não se mudam, senão muito lentamente, os valores culturais das sociedades. Mesmo se esses valores culturais se dizem beber da mesma fonte que, lendariamente, brotou a 25 de Dezembro de há pouco mais de 2000 anos.

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