Monday, April 23, 2012

CONVERSA DE BANQUEIRO

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Da longa entrevista de Ricardo Salgado ao Expresso/Economia deste fim-de-semana destaco duas respostas do banqueiro:

Expresso - A banca não andou a financiar o Estado e sectores não produtivos?
 Ricardo Salgado - O Estado é o Estado, tem obrigação de saber o que faz. Se há programas de investimento público que não se coadunam com a realidade ... Houve certamente exageros, mas se não fossem os bancos portugueses, apareciam os bancos estrangeiros ...  

Expresso - Foi muito criticado por ter feito discurso favorável às grandes obras públicas e à não convocação de eleições. Arrepende-se desse discurso?
Ricardo Salgado - Não me arrependo. Fui criticado por defender duas coisas que continuo a defender: uma é o TGV e a outra o novo aeroporto de Lisboa.


Pois é.
Segundo o banqueiro Ricardo, se houve (e continua a haver) um desastrado descarrilamento nas contas públicas, a culpa é do Estado porque, notem bem nesta subtileza, o Estado é o Estado, tem obrigação de saber o que faz. Se há  programas de investimento público que não se coadunam com a realidade ... (Se) houve exageros, a culpa não é dele nem dos seus pares, porque se não fossem os banqueiros portugueses a emprestar ao Estado, apareciam os bancos estrangeiros... Agora mesmo, quando os bancos estrangeiros tiram o cavalo da chuva quem é está ali para socorrer o Estado? O Ricardo e seus pares portugueses.

O banqueiro Ricardo não se arrepende de ter feito um discurso favorável às grandes obras públicas e ainda hoje continua a defender o TGV e o novo aeroporto de Lisboa, mas, evidentemente para o banqueiro Ricardo, se algumas, grandes ou menos grandes, obras públicas foram feitas que não se coadunavam com a realidade, se o país se endividou até aos gorgomilos, a culpa é do Estado que tinha (e tem) obrigação de saber o que faz, já tem mais que idade para isso.

Mas nem só o Estado é culpado do desastre. As famílias também. Quando Ricardo voltou a Portugal em 1992, diz ele, havia falta de 700 mil habitações. Quem é que financiou a construção civil e dotou o País de um excesso que não encontra paralelo na Europa, salvo a Espanha? Os banqueiros. Evidentemente segundo o banqueiro Ricardo, se houve excessos e muitas famílias agora não podem pagar os empréstimos contraídos para comprar a casa, a mobília, e umas viagens de férias, a culpa é delas, que já tinham idade para ter juízo e obrigação de saber fazer contas.

Resumindo e concluindo, segundo o banqueiro Ricardo, a banca está inocente, a história tem de ser contada ao contrário.

Pois tem, Ricardo.
A história, Ricardo, é que os empréstimos que a banca concedeu ao Estado, importou-os do estrangeiro. A poupança dos portugueses não chegava para mandar cantar um cego. Os banqueiros portugueses não se anteciparam nem substituiram os bancos estrangeiros, simplesmente intermediaram esses empréstimos externos, cobrando as margens e as comissões com que se banquetearam enquanto a festa durou. A festa da ganância dos lucros fáceis à mesa dos votos comprados com a demagogia. Só uma autoestrada senhor primeiro-ministro?, faça duas ou três, e ganha a dobrar. Só três rotundas, senhor presidente da Câmara? O seu vizinho já fez seis e a oposição promete mais sete. Oh senhor presidente do Governo Regional da Madeira, por quem é! Financiamos-lhe os viadutos que quiser. Um heliporto?  Só um? Uma marina? Faça duas, que ficam a um preço médio mais baixo.

Agora que o maré baixou e a corrente cheira a lodo que tresanda, o banqueiro Ricardo mete o nariz entre o polegar e o indicador, e culpa o Estado por não saber o que faz!

Fizesse ele o TGV e o novo aeroporto de Lisboa, aí sim, faria bem.
Mas o Estado, Ricardo, é um estupor que faz tudo ao contrário. Pelas dívidas que lhe vendeste manda-me agora a conta a casa.

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Act. - Aqui : Outro que não sabia que o estado não sabe o que faz: O BCP ajustou os resultados de 2011 com as perdas assumidas com a reestruturação da dívida grega. Face ao já anunciado, o banco agora liderado por Nuno Amado registou mais 63 milhões de euros de perdas, o que leva os prejuízos para os 849 milhões no ano passado.

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