Tuesday, June 08, 2010

VÁ PARA FORA CÁ DENTRO!

A chamada de atenção feita pelo PR ontem para a importância que as viagens turísticas ao estrangeiro feitas pelos portugueses asssumem no défice externo (17,5%) e aconselhando que passem as suas férias cá dentro
deveria ser tomada como um contributo sério para a solução do nosso défice estrutural com o estrangeiro.
Em vez disso, o ministro da economia, interrogado sobre a sugestão do PR ironizou que, se os presidentes dos outros países recomendassem o mesmo, e os turistas estrangeiros deixassem de procurar Portugal o défice externo subiria 27,2% . Ambos têm razão?
.
Não. Ainda que, por exemplo, aqui e aqui, se afirme que sim.
E não porque: por um lado, Portugal tem no turismo um dos produtos mais preponderantes na sua balança comercial. Se o consome todo, nada restará para exportar. Dito de outro modo, se produzirmos vinho e o bebermos todo nada sobrará para comprar outras coisas que necessitamos e não produzimos. O mesmo se passa com o turismo: se gastamos no estrangeiro o que os estrangeiros consomem em Portugal nada sobrará  e o saldo do turismo até será negativo uma vez que muito do que o turista consome em Portugal (por exemplo, a alimentação) é importado. 
.
A divergência entre o PR e o ministro nesta matéria não decorre de opções ideológicas antagónicas (a afirmação do PR não é de esquerda nem de direita e nenhum objectivo se vislumbra nele de crítica ou ataque à política do governo nesta matéria) mas resulta de uma atitude de confronto que o ministro parece ter sido chamado a representar neste governo.  
.
Aliás, o objectivo de confronto é tão nítido e a reacção tão vesga que, neste caso, esquece  o slogan que o próprio governo promoveu através do ministério da economia: "Vá para fora cá dentro, faça férias em Portugal"
-----
O ano passado, os portugueses gastaram 2.712 milhões de euros em viagens e turismo ao exterior. "As férias passadas no estrangeiro representam importações e aumentam a dívida externa portuguesa". Se todos os portugueses transferissem as suas viagens para Portugal, o défice externo nacional reduzir-se-ia em cerca de 17,5%.

5 comments:

aix said...

Caro Rui, quer pelas análises isentas que costumas fazer quer pelo teu exemplo não me parece que tenhas qualquer razão. A réplica do ministro tem toda a lógica: se todos fizessem o mesmo não haveria turismo estrangeiro e o mais prejudicado seríamos nós. Além de que não creio que se trate de matéria própria de um PR. Melhor lhe tinha ficado responder ao presidente da república checa quando, indevidamente, se imiscuiu nos nossos problemas. Aí ficou caladinho. E sobre a (in)oportunidade da ‘boutade’ não sei se é o ministro que foi chamado a representar uma atitude de confronto ou se foi Cavaco que, sabendo das férias de Sócrates no estrangeiro, o quis afrontar. Por mim vou mais por esta, porque mais frequente.

rui fonseca said...

Não, meu Caro Francisco, não concordo contigo.

No meu apontamento digo por quê, mas posso esclarecer melhor.

O governo, este mesmo governo, tem incentivado os portugueses a fazerem férias cá dentro. Verdade?

O PR não fez mais do que dar o seu contributo reforçando essa ideia.


Que é correcta. O ministro da economia ao refutar as palavras do PR não refutou a ideia (seria um contrasenso) mas quis, mais uma vez, confrontar gratuitamente o governo com este PR.

Aliás, ainda não há muito tempo considerou a intervenção do PSD na AR como uam mão cheia de nada. No dia seguinte, contudo, o PM aceitava o apoio do PSD ao PEC.

É um facto que muitos de nós nos admiramos do número de portugueses que faz férias no estrangeiro. O PR deu voz esse espanto geral por tanta gente se deslocar para praias do México, por exemplo, tendo Portugal uma oferta em quantidade e qualidade elevadas.

Também não concordo contigo que estas não são matérias da competência do PR. Por que não?

Não te esqueças, meu caro Francisco, que o PR tem um mandato dado em votação directa e universal.
Se alguma razão de queixa tenho deste PR é precisamente na sua
fixação a uma interpretação muito restrita dos seus poderes constitucionais.

Por exemplo, nunca deveria ter dado posse a um governo minoritário monopartidário na situação de grave crise em que o País se encontra sem antes ter diligenciado muito tenazmente no sentido da formação de um governo maioritário pluripartidário.

Ainda muito recentemente no Reino Unido, onde o sistema eleitoral facilita a formação de governos de maioria, dois partidos formaram uam coligação em menos de uma semana.

Por que não em Portugal? Por que razão nos damos ao luxo de discutir questões de lana caprina como esta da oposição de um ministro ao PR a propósito de um problema que de ideológico não tem nada?

António said...

""Aliás, o objectivo de confronto é tão nítido e a reacção tão vesga que,...""

Reacção vesga. Ganda pinta!
Acho que tem toda a razão, mas como estamos num país algo estranho, não se pode abrir a boca que fica logo tudo com um olho no burro, outro no cigano.

aix said...

«Por que razão nos damos ao luxo de discutir questões de lana caprina como esta da oposição de um ministro ao PR».
Caro Rui,constando do teu blog, sempre atento a factos e notícias relevantes,pareceu-me a mim que não consideraste a questão como de 'lana caprina' e por isso discordei, como discordo.Mas cada um na sua e eu prezo a tua Amizade.Abç

rui fonseca said...

«Por que razão nos damos ao luxo de discutir questões de lana caprina como esta da oposição de um ministro ao PR».

Caro Francisco,

Sabes bem que penso que aprendo com quem discorda de mim.

No caso em questão em que é que discordamos?

O ministro discordou da intervenção do PR mas o PR disse o que a promoção do turismo interno reclama "Vá par fora cá centro. Faça férias em Portugal"

O PR colocou-se, portanto, ao lado dos esforços do governo.

Ou não?

Acrescentou uma coisa: Disse quanto custa à deficitária balança comercial o gozo de férias no estrangeiro. Disse alguma coisa que não devia dizer?

Foi pelo facto de ter dito o que disse que os outros presidentes fizeram o mesmo?

Um abraço, sempre na expectativa dos teus contributos.