Friday, May 01, 2009

DEMOCRACIA DE OUTDOORS

Partidos duplicam dinheiros para as campanhas, lê-se no Expresso de hoje, mas deve tratar-se de uma estimativa feita por baixo. Pois se na semana que vem os partidos se vão permitir passar a receber dinheiro vivo que, legalmente, poderá ser 57 vezes superior ao limite consentido até agora, é esperável que as despesas das festas atirem para muito mais do dobro. Até porque são três de seguida, e, quando o desafio se acelera, o esforço requere gastos de energia mais que proporcionais.
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Por outro lado, e pelas razões que já referi aqui, as 57 vezes são uma porta escancarada para o ilimitado, ainda que o líder parlamentar do PS nos tenha querido convencer, ontem na Sic notícias, que as contas dos gastos das campanhas eleitorais vão passar a ser objecto de escrutínio mais apertado. Não vão, pela simples mesma razão que os leva a aprovar por unanimidade esta lei rôta: o confronto partidário termina quando o conluio de interesses aproveita a todos.
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A mais visível aplicação dos dinheiros arrecadados (e dos favores concedidos ou prometidos) são os outdoors, uma afronta estética que já está a começar a conspurcar a paisagem por todo o lado
onde passe uma rua ou uma estrada. É a democracia de outdoor: vazia de ideias mas preenchida de fúcias. Faz algum sentido esta guerra de cartazes, absurdos para quem já conhece aquelas caras e aqueles slogans recorrentes? Provavelmente, sim. Desde logo para as empresas de marketing que os sugerem, concebem, constroem e montam. Geralmente, esquecem-se de os desmontar, e os figurantes acabam em estado lastimável, depois de findas as festas.
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Para os partidos, o resultado é idêntico ao que se observa num daqueles restaurantes de vãos amplos e espaços apertados entre as mesas: a algazarra dos comensais evolui em crescendo porque, cada grupo para ouvir e se fazer ouvir, tem de sobrepor as suas vozes ao barulho circundante. Passa-se o mesmo com os outdoors: o aumento do número e do tamanho não aumenta a eficiência de cada conjunto partidário. O que aumenta é o barulho global.
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Para o cidadão comum é uma ofensa dupla:
1 - Porque é tratado como imbecil, que decide o sentido do seu voto, não em função do que pensa a cabeça do cartaz mas da imposição quase omnipresente da cabeça;
2 - Porque, sobretudo em tempos de crise, que está a aumentar aceleradamente o número de desfavorecidos, sobretudo desempregados, deveriam os partidos ter o pudor bastante que lhes contivesse as ânsias de exibições de riqueza, qualquer que tenha sido a forma como a herdaram.

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