Thursday, December 11, 2008

OS AMIGOS DE CAMILO

Amigos, cento e dez, ou talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia:
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais!
.
Amigos, cento e dez! Tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia
Que, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.
.
Um dia adoeci profundamente.
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quasi rotos.
.
Que vamos nós (diziam) lá fazer?
Se ele está cego não nos pode ver.
- Que cento e nove impávidos marotos!
.
Camilo Castelo Branco

2 comments:

António said...

Mas...
Embora não se veja, falo por mim, venho cá vê-lo todos os dias.

Fique tranquilo que está mais acompanhado do que julga.

Rui Fonseca said...

Obrigado António.

Tranquilíssimo.