Wednesday, August 08, 2007

TORGA

Costuma dizer-se que os Poetas não têm biogra­fia. No caso de Torga assim não acontece. A sua vida constitui o húmus de toda a sua escrita, tanto na poe­sia, como na prosa (o romance autobiográ­fico A Criação do Mundo, representa o percurso inteiro de uma vida e quem a lê fica ciente de tudo o que res­peita ao homem e ao escritor) ...

Cristóvão de Aguiar (A destreza das dúvidas)

Em Setembro de 79, a Arcádia publicou um livro “Miguel Torga - poeta ibérico”, de Jesús Herrero, um basco que estudou Psicologia em Lisboa, e se dedicou à psico-sociologia de Ortega y Gasset (que também tinha residido em Lisboa por um largo período da sua vida).
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O ensaio de Herrero recorre, ao longo de todo o texto, ao pensamento do filósofo espanhol para propor a sua compreensão da vida, da atitude, e da poesia de Torga.
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Os críticos estruturalistas não tomam em conta, geralmente, a biografia dos poetas criticados…” “Em contraste com a tendência objectivante apresenta-se a tendência personalista. Todo o processo criador é sempre duplo, diz Jung: humano-pessoal e impessoal.” Para Ortega y Gasset “cada obra de arte é um troço de vida de um homem e da sua intimidade, que se exprime por meio da obra”
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“Canto e cuento es la poesía.
Se canta una viva historia
contando su melodía”
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(António Machado)
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“Se me perguntam o que é a minha poesia, terei que dizer-lhes: não sei. Mas se o perguntam à minha poesia, ela lhes dirá quem sou” - Pablo Neruda.
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Eu, que me confesso um impenitente admirador de Torga, não vejo que possa separar-se nele o homem, o poeta, e a sua circunstância. Tivesse Torga nascido em Lisboa, e não deixaria de o abanar a sua alma de poeta. Mas não seria Torga. Maior ou menor, é questão que não pode colocar-se. Provavelmente, seria o mesmo, mas outro.

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