Saturday, January 13, 2007

É O PETÓLEO, ESTÚPIDO!

Caro J.


O seu post de hoje alinha com o de Vasco Pulido Valente publicado ontem no Público. Mas não são originais: há milhares de comentários idênticos por esse mundo fora.A popularidade actual de Bush, segundo as últimas sondagens, continua em queda e já é considerado por muitas sumidades na matéria como um dos piores, se não o pior presidente, dos EUA.E, no entanto a questão não tem solução fácil, mesmo que Bush não fosse, segundo muita gente, um idiota.
.
No ponto em que as coisas estão, como dizia o outro, é preciso muito caco e muita imaginação. Porque se os americanos sairem assim de um momento para o outro, incendeia-se o Iraque e as labaredas propagar-se-ão aos movimentos anti- americanos em toda a zona do golfo.É forçoso reconhecer que a al-Qaeda está a progredir o seu "franshising do terror" e que uma saída das tropas norte-americanas do Iraque acelararia esse progresso.Os norte-americanos não estão no Iraque para ali fazer crescer a democracia. Estão no Iraque porque na zona do golfo, cada vez mais minada pelos fundamentalistas islâmicos, estão as maiores reservas de petróleo mundiais, de que os EUA não podem prescindir...nem nós.
.
Mas são as tropas norte-americanas que estão a dar o corpo ao manifesto.Se o Iraque apresenta um cenário idêntico ao do Vietname as razões que prendem os norte-americanos ao Iraque são completamente diferentes daquelas que os levaram ao Vietname.
.
A política de domínio norte-americano do golfo pérsico vem de muito longe. Suponho que já referi aqui isso mesmo. De qualquer modo, aqui fica outra vez:
Em finais de 1979, era presidente Carter, a União Soviética preparava-se para ameaçar o domínio norte-americano na área do golfo pérsico, o que constituia a sua primeira tentativa de intervenção fora do bloco soviético depois do fim de 2ª. GG.
Carter, em Janeiro de 1980, enunciou então aquela que ficou passando a ser conhecida como Doutrina Carter, e que mais não era do que relembrar posições assumidas desde há muito pelos EUA:
.
"Let our position be absolutely clear: An attempt by an outside force to gain control of the Persian Gulf region will be regarded as an assault on the vital interests of the United States of America, and such an assault will be repelled by any means necessary, including military force..."
.
De modo que nem o Senado nem o próximo presidente dos EUA, ainda que seja democrata como tudo leva a crer, neste momento, que seja, vão alterar esta doutrina, por razões vitais.
.
Claro que subsiste a questão: E se os norte-americanos não tivessem invadido o Iraque e demitido Sadam?Acontece que a História não se escreve com hipóteses.
.
Impressionante, no entanto, é o facto de tanta gente, honestamente, presumo, se preocupar com os voos da CIA, a guerra no Iraque, no Afeganistão, na Somália agora, e ninguém reparar que o 11 de Setembro aconteceu.
.
Se os europeus em geral, e os portugueses em particular, tivessem alguma preocupação em reler a história dos últimos cem anos, talvez fossem mais condescendentes com esse povo, que é uma grande mistura de raças, cores e credos, e que deu ajudas decisivas no desatar de alguns nós em que os europeus estiveram envolvidos.
.
Só não estranho que Vasco Pulido Valente omita o que muito sabe de História Contemporânea para fazer o voto que faz: de que o Senado vote contra o reforço de efectivos no Iraque. VPV tem uma encomenda que lhe permite emitir o recibo e vai baralhando e dando de novo. Tivesse Bush anunciado que ia retirar do Iraque e ele chamar-lhe-ia o pior dos nomes.
Porque para Vasco Pulido Valente só há uma pessoa capaz e inteligente: ele próprio. E, vá lá, a Dona Constança.
.
Nunca ninguém o viu ou ouviu aprovar mais coisa alguma.

1 comment:

Anonymous said...

caro amigo,

A minha opinião e relação ao Iraque não foi influenciada pelo VPV, apesar da coincidência. Concordoem muitas coisas com VPV mas como compreenderá é difícil ter golpe de rins para o acompanhar nas guinadas que dá.

Este post vem na linha de todas as opiniões pois desde o princípio, independentemente de considerações estratégicas, considerei que invadir o Iraque seria facil o complicado era ocupá-lo, como se está a ver.

Os estrategas americanos erraram ao pensarem que o terreno era mais permeável ao seu poderio militar. Hoje vemos que não nem equipamentos nem tecnologias que os livrem das numerosas baixas que estão a sofrer. E veremos se o aumento das tropas não resultará num aumento proporcional de baixas.

Aquilo não e o lodaçal vietnamita, mas começa a parecer que as areias são bem mais movediças do que se esperava.