Tuesday, January 30, 2007

MAR DA SERRA

O seu poema teve o condão de me fazer chegar nesta manhã fria e cinzenta, que anuncia por cima da Serra de Sintra, ali em frente, uma tarde de chuva, a maresia do mar do nosso Mondego.
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Nasci à beira dele e as nossas rotas, que devem ter sido contemporâneas, tomaram sentidos diferentes: O C., da sua Ilha para Coimbra, foi até à Figueira procurar naquele mar o mar que lhe rodeou o berço. Eu, que de Coimbra só recebi cartas de chamada por razões indesejáveis, rumei para Lisboa.
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Durante muito tempo as raízes pediam-me que as arejasse onde tinham sido plantadas, e voltava à Figueira em cada Sábado na automotora que saía do Rossio às 14. A viagem demorava mais de cinco horas e, por alturas das Caldas, as noites mal dormidas durante a semana e o trepidar das rodas sobre as descontinuidades dos carris, embalavam-me para um sono que nenhum alvoroço na carruagem interrompia.
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E era quando a maresia se anunciava à passagem pela Fontela que eu acordava.
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Naqueles tempos o mar era mais manso, havia mais praia onde enrolar a sua fúria. E havia rochedos, que agora estão soterrados naquela imensidão de areia, onde se desenvolvia a natureza que exalava iodo num raio variável com a sensibilidade de cada um.
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A mim, ainda me chegou hoje aqui em Sintra, nesta bandeja sua de cor e odor magníficos.

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