Wednesday, August 31, 2016

O JOGO DA CABRA CEGA


Ontem, por avaliação judicial errada de tribunais portugueses, foram os contribuintes portugueses condenados pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos ao pagamento de 30 mil euros de indemnização à Medipress mais 9 mil de custas de processo. - cf. aqui
Têm os contribuintes portugueses direito de regresso sobre o beneficiário do erro, o sr. Santana Lopes, então primeiro-ministro? 
Não vi até agora questionada a, afinal, injustificada indemnização ao autor do processo. 
Se as leis consentem esta iniquidade, paga quem não deve, recebe quem não devia, deveria ter o sr. Santana Lopes a  hombridade (palavra a cair em desuso por falta de uso)  devolver o que recebeu indevidamente.
Devolverá? A julgar pelos comentários que li hoje, o sr. Santana Lopes estará nesta caçada como o coelho na moita.

Hoje lê-se no Expresso Digital que

"O Tribunal Central Administrativo do Sul condenou o Estado português a pagar uma indemnização ao Expresso, num valor ainda a acordar, por não ter sido autorizada em novembro de 2014 uma entrevista ao então detido preventivamente José Sócrates. A direção das cadeias argumentou na altura que quer o procurador Rosário Teixeira, quer o juiz Carlos Alexandre deram parecer negativo à realização da entrevista, mas nunca fundamentaram devidamente a decisão".

Vai de vento em popa o negócio das indemnizações por responsabilidade civil extracontratual do Estado (leia-se dos contribuintes portugueses) por falhas no exercício das funções dos agentes de serviço público. 
Ventos que também sorriem, pelo andar da carruagem em que se meteu, ou foi metido, ao sr. José Sócrates, condenado na praça pública e, para já, a aguardar, há mais que tempo, recurso em primeira instância num tribunal português.

FUGA DOS BANCOS

-  Não, não tinha. Cada vez leio menos, cada vez vejo menos televisão, ouço rádio, música, agora só ouço música...
- Clássica?
- Agora, ouço mais Jazz.
- E fado, não?
- De vez em quando não faz mal nenhum ... e trabalho ...
- ...
- Já passei os setenta mas não páro. Não posso parar. Não sei fazer outra coisa. E não é pelo dinheiro que ganho. Por muito que gaste já não terei tempo para o gastar todo. E, sabe uma coisa? Tenho muito pouco dinheiro nos bancos. Só o essencial para o dia-a-dia. E não é por serem baixas as taxas de juro. Por enquanto, cá, tanto quanto ouço dizer, ainda são positivas. Pouco, mas ainda são positivas ...
- ...
- Não confio nos bancos. Há muito tempo que deixei de confiar nos bancos.
- Investe no imobiliário ...
- Não temos alternativa. Conhece outra alternativa? Que não passe pelos bancos, entenda-se. 
- Mas tem certamente alguma liquidez à sua disposição, para além dos depósitos à ordem, que, pelos vistos são mínimos ...
- Tenho, claro que tenho. Tenho dois cofres cheios!
- Grandes, suponho.
- Um pouco mais altos que eu. Herdámo-los, eu e o meu irmão, do nosso pai. Noutros sempos serviram para guardar os livros selados, as escrituras, as procurações, dessas coisas com que se governam os notários. E algum dinheiro, claro. Agora, estão repletos de notas.
- E não tem receio de assaltos? 
- Assaltos? Não. Ninguém se atreve, garanto-lhe, mas, desculpe, não lhe digo porquê.
- Não são devidas desculpas e, a mim, o conhecimento de técnicas de alta segurança não me serviriam de grande coisa. 
- Há tempos, um velho amigo meu, de longa data, perguntava-me o que deveria fazer às economias de uma vida inteira  porque, dizia-me ele, a juros não lhe rendem nada e, com os bancos a abanar, ainda corre o risco de ficar sem a massa. Compra casas, disse-lhe eu.
E, depois, se preciso do dinheiro de um momento para o outro? Na nossa idade, o risco de uma camoeca ou coisa pior aumenta de dia para dia. Não, casas, não.
- ...
- Então eu disse-lhe: Sabes o que faziam os frades para esconder os tesouros das igrejas das tropas do Napoleão? Enterravam-nos dentro de pipos do vinho debaixo das pocilgas dos conventos. O tipo ouviu, e calou-se. Depois, passou-se algum tempo sem que eu lhe pusesse a vista em cima, até que a semana passada me telefonou para almoçarmos. Tinha estado na Guarda, na quinta, antiga propriedade da família, a respirar ares puros ...
- E criar porcos?...
Não. Isso seria demasiado óbvio, e o meu amigo não é trouxa.
Estive a pensar naquela ideia dos frades, disse-me ele,  ... e vou meter o dinheiro, sabes aonde?
Não faço ideia nenhuma.
Eu digo-te:Vou passear.
Vais quê?
Vou passear. Dar voltas ao mundo já que não posso dar-lhe a volta.
Talvez seja boa ideia. Mas o que é que isso tem a ver com os frades?
Esses esconderam o ouro porque não tinham possibilidade de o trocar por patacos e fugir dos franceses.
- Calei-me.Calei-me porque, francamente, não sou capaz de deixar de trabalhar para dar voltas ao mundo.  Devo ter nascido para frade, o que é que v. acha?
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Correl . - Banks look for cheap way to store cash piles as rates go negative

 

Tuesday, August 30, 2016

O JOGO DA CABRA CEGA

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou os contribuintes portugueses* a pagarem 30 mil euros à Visão mais as custas do processo.

Há 12 anos, o então primeiro-ministro Santana Lopes considerou-se difamado por um jornalista da "Visão", e, três anos depois, moveu um processo contra a revista e o jornalista. Decorridos outros três anos, um tribunal condenou o jornalista e a revista ao pagamento de 30 mil euros ao ofendido. Os condenados recorreram em segunda instância, mas a sentença ditada em primeira instância foi confirmada passados dois anos. Recorreram os condenados desta confirmação para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que, quatro anos depois, devolveu a razão à revista e ao jornalista, e condenou os contribuintes portugueses a pagarem 30 mil euros à empresa proprietária da revista mais as custas do processo. 

Resultado: Santana Lopes - mais 30 mil
                   Tansos fiscais  - menos 30 mil e custas do processo.

PARA LÁ DO MARÃO*

É público que os principais candidatos, da esquerda à extrema direita, já assumidos como tal, à presidência da República Francesa, em Abril do próximo ano, declararam apoiar a "revolta popular" contra o burquini.

Independentemente do julgamento que possa fazer-se sobre a racionalidade da rejeição popular, pode ou não pode a suspensão decidida pelo Conselho de Estado ser revertida por uma votação maioritária na Assembleia Nacional?

Parece que sim, se a suspensão decidida pelo Conselho de Estado se configura, segundo afirma o André Lamas, como a aceitação de uma providência cautelar, sujeita a decisão definitiva, suponho eu, em sede mais competente.

Se for o caso, e ainda que a rejeição da polémica peça nos possa parecer obtusa, é caso para dizer que "para lá do Marão mandam os que lá estão".

Ou não?

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Comentário colocado aqui

Monday, August 29, 2016

NÃO SERVE DE FACTURA*


Rita,

Como certamente sabe, as escalas das gratificações em restaurantes divergem bastante entre Portugal, e mesmo a Europa em geral, e os EUA, onde agora, "a título indicativo" a "tip" varia normalmente entre os 15% e os 20%, e mais, se se sentam os comensais em grupo superior a seis.
Mas, como também sabe, a "tip" nos EUA remunera o serviço, enquanto em Portugal e na Europa em geral, o empregado tem um salário, que é incorporado nos preços dos produtos consumidos, a que acrescem as gratificações. Confirma?
Entre os dois "sistemas" prefiro o americano, porque promove a eficiência, mas como não posso alterar vou tentando perceber, em cada caso,  o que é uma gratificação "aceitável".

Há, no entanto, um aspecto que a Rita não refere e que é verdadeiramente discriminatório entre nacionais e estrangeiros.
Refiro-me ao facto de haver em Portugal, desde há algum tempo, um incentivo da administração fiscal à emissão de factura com o objectivo de evitar a evasão fiscal do IVA. Esse incentivo consiste na devolução ao contribuinte, em sede de IRS, de parte do IVA pago. A taxa do IVA em Portugal, como certamente não desconhece, é muito mais elevada que nos EUA.

E, claro está, como ao cliente estrangeiro não serve o esquema da dedução em IRS, os restaurantes são levados, em princípio, a ver com melhores olhos os estrangeiros que os nacionais.

Porque, bizarramente, em Portugal, quando se pede a conta não nos trazem a factura mas um documento igual à factura que expressamente indica que esse documento "não serve de factura".
É com base nesse documento que o cliente paga e só depois, muitas vezes propositadamente atrasada, chega a factura. A tal que dá direito à tal deduçãozinha.

Está errado o sistema?
Eu penso que sim. A falta de factura, que é obrigatória, deveria dar lugar a uma penalização fortemente desmotivante. Mas a administração fiscal entendeu ir por por outro lado.
Recentemente, baixaram o IVA nos restaurantes de 23% para 13% com a intenção de dar-lhes a oportunidade baixarem os preços e, deste modo, facturarem mais, e admitirem pessoal.
Não vai acontecer nada disso. A diferença será embolsada pelos restaurantes.
Nem os preços baixam nem o emprego aumenta.

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Correl. -
O turismo low cost está a estragar Lisboa?

Sunday, August 28, 2016

ACERCA DO SEXO NA ONU

Mafalda,

Afigura-se-me que a Mafalda atirou para o alvo ao lado para atingir a mouche que lhe interessava: a defesa de quotas na atribuição de lugares de responsabilidade de topo.

Sou dos que pensam que as mulheres deveriam prescindir desse falso apoio.
As mulheres têm vindo a demonstrar que não são mais nem menos competentes que os homens no exercício das mais diversas funções, incluindo as de comando.

Basicamente, o argumento da Mafalda é este: o António Guterres não será secretário-geral porque o lugar não é atribuido em função do mérito relativo dos candidatos mas de outros critérios (sexo, origem geográfica) que o colocam de fora.

E talvez tenha razão.
Mas desvaloriza a sua defesa de uma mulher na posição porque, implicitamente, reconhece que as candidatas serão, eventualmente, menos meritórias do ponto de vista dos atributos não fundados no sexo e na origem.

Aliás, se a perspectiva da Mafalda é muito correcta, as audições públicas dos candidatos serão uma farsa e a ONU não merece Guterres.

São?

A minha opinião não se sustenta no eventual mérito de A Guterres porque a manteria se o merecedor, ou a merecedora, fosse outro, português ou não.

Saturday, August 27, 2016

DE BORLA, PARA TODOS


Há 25 anos que a Shakespeare Theatre Company  oferece aos residentes, ou visitantes, na área de Washington DC, a oportunidade de assistirem gratuitamente a um dos espectáculos da companhia. Basta uma inscrição por e-mail e aguardar que a tômbola dê o resultado (frequentemente favorável) no fim do dia para a sessão, ou sessões, do dia seguinte.
Este verão, entre 16 e 28 de Agosto, está em "Free for AllThe Tempest no Sidney Harman Hall, inaugurado em 2007.
Muito próximo deste, a mesma companhia continua a dispor do Lansburgh Theatre, construído em 1992.

Assistimos a este "The Tempest" com a recordação bem presente do espectáculo apresentado por Carlos Avilez no Teatro Mirita Casimiro, que registei aqui.
Mas não vou fazer comparações.
Cascais não é Washington DC,  o grupo do "Teatro Experimental de Cascais" não possui os recursos, humanos e materiais, da  Shakespeare Theatre Company, ainda que esta não disponha de subsídios públicos.
Um aspecto, contudo, vale a pena salientar.
É muito frequente em Portugal sentarem-se em lugares privilegiados entidades convidadas para assistirem gratuitamente a espectáculos subsidiados pelo orçamento de Estado. O interesse da população portuguesa em geral pelo teatro é débil, e a assistência é muitas vezes composta com este tipo de convites.
Resulta desta prática, antiga, algum incentivo à adesão no futuro de mais público ao teatro?
Não resulta. Quem entra de borla aguarda borlas no futuro.
Quem se candidata a um espectáculo "Free for All" da Shakespeare Theatre Company passa a receber insistentes notícias de todos os espectáculos da companhia. E muitos irão, pagando.

Gostamos de teatro, assistimos, sempre que podemos, a espectáculos de teatro na área metropolitana de Lisboa. Nunca recebemos notícias por e-mail dos espectáculos em cena no sítio onde residimos. Em contrapartida, recebemos e-mails que nos enchem a caixa de correio de empresas que não conhecemos de lado nenhum. Generosas ofertas de dinheiro a taxas acima de 9%, p.e., são quase diárias.
Não sei quem lhes disse que, cá em casa, estamos a precisar dinheiro.

Friday, August 26, 2016

E SE O BURQUÍNI FOR BEM JUSTO E DE COR DE PELE?

A. Cristóvão,


Quando li a notícia pela primeira vez, reagi pensando que os franceses estavam a comprar uma guerra absurda. E considerei até que se tratava de um ardil achado para contornar a falta de liberdade imposta pelos islâmicos às suas mulheres. Neste sentido, o burquíni seria uma manifestação de emancipação, um sintoma de fuga à subjugação a que estão submetidas as mulheres no Islão.

Mas mudei de opinião porque percebi, por empatia, que a revolta dos franceses, aterrorizados pelos fanáticos que pretendem impor ao ocidente valores que nos repugnam, não é contra o burquíni mas contra o símbolo que eles vêem exibido no seu meio.

São livres as mulheres islâmicas de vestir o que bem entendem?
Todos sabemos que não são, ainda que, provavelmente, a grande maioria delas afirmem o contrário. Temos nós, os ocidentais, o direito de lhes impor os nossos valores?
Temos, pelo menos, o direito de no nosso solo impedir que outros nos imponham os seus com actos de terror.

O burquíni é um débil exemplo de subordinação feminina? É. E, pode até, como disse no princípio, ser entendido como sintoma de emancipação.
Se não estivesse o mundo ocidental ameaçado pelos actos tresloucados de gente que bebe em interpretações corânicas  o elixir de uma vida abençoada num céu de virgens.

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Correl . -‘Burkini’ Inventor Says Sales Have Skyrocketed on Heels of Controversy -  aqui
- Justiça francesa suspende proibição do burquíni
- Sarkozy promete proibir burquíni em França se for novamente eleito presidente em 2017



Thursday, August 25, 2016

MODA E BURQUÍNl

"Por momentos, façam de conta que os pretos são tratados por uma religião tal como as mulheres são tratadas pelas correntes radicais islâmicas.
Ou seja, não se aperta a mão aos pretos, não se os olha nos olhos, não podem ir sozinhos falar com os seus professores brancos, alguns não podem ir à rua sozinhos e, claro, devem andar de corpo coberto como sinal de modéstia e submissão.
Também iam a correr comprar burkinis pelo direito dos pretos a vestir o que lhes apetecesse?

"Gostaria de saber se a nossa sociedade aceitava que os negros fossem tratados como as mulheres são neste caso." - aqui


Não aceitava, claro.
E antes da não aceitação foi a Lei que proibiu esses e outros comportamentos distintivos, i.e., racistas.

Dito isto, temos que reconhecer que o burquíni só gerou tão grande sururu porque a sociedade francesa está traumatizada pelos ataques cobardes de fanáticos islâmicos e vê no burquíni uma forma de afirmação de presença que eles, naturalmente, percepcionam afrontosa.

Porque o burquíni, enquanto vestimenta, não se distingue flagrantemente do equipamento dos surfistas. O burquíni é, do ponto de vista de quem foi ferido e continua a ameaçado, uma forma ardilosa dos islâmicos pretenderem impor os seus valores civilizacionais (do ponto de vista deles) nos países que os acolhem, e onde muitos nasceram, e onde alguns deles se dedicam ao combate civilizacional.

Assim, sendo, a arma da Lei é a única, neste caso, que pode conter o avanço da barbárie.









Correl . -
Burquíni é moda
Manuel Valls apoia proibição do burquíni em França

Wednesday, August 24, 2016

ENQUANTO O PAÍS DORME

A banca não pára de nos trucidar.

O Expresso deste fim-de-semana acrescentava aos quase mais cinco mil milhões devorados pela Caixa, a quase certeza que o Novo Banco, se for vendido, ninguém dará por ele mais que tuta-e-meia, e que o BPN, o buraco sem fundo do BPN, "pode custar", segundo avaliações recentes, ao Estado (qual Estado, qual carapuça, quem paga são os contribuintes!) mais de 9 mil milhões de euros!

Recorde-se que o sr. Teixeira dos Santos, ministro das Finanças na altura, garantia publicamente, algum tempo depois de ter sido nacionalizado o ninho de ratos que se chamava BPN, que deste facto "ainda não tinha resultado perda alguma para os contribuintes". 
Registe-se também que à nacionalização apenas se opôs, se bem me lembro, (pasme-se!) o PCP.

Mais tarde, caiu o governo PS com a ajuda dos parceiros no actual governo PS, e o ministro T dos Santos foi pregar para outra freguesia até lhe ser oferecido o lugar de presidente do BIC, que o sr. Mira Amaral aquecera com a compra, por menos que nada, do BPN!, o tal que o governo, com T dos Santos nas Finanças, nacionalizara.  

As empresas (empresas porquê?) incumbidas de recuperar o mais possível os salvados do monumental rombo andam há cerca de oito anos à procura do fundo do buraco, e, cada ano que passa, alegremente constatam que a profundidade aumenta. Compreensivelmente alegres, porque se alongam os seus honorários à medida que se alonga o fundo do buraco. 
Do outro lado da cena, a cabra-cega cambaleia, entontecida pelos foliões do jogo. 

A mim, interroga-me uma incontida dúvida a que  não vi ainda ninguém perguntar nem dar resposta:
Se, como tudo leva a crer, as perdas resultantes destes escândalos e destas ribaldarias são devidas por calotes incobrados (agora chamam-lhe créditos tóxicos, imparidades) os caloteiros (perdoem o plebeísmo, que pode ser feio mas é preciso): 

- morreram?
- fugiram?
- estão insolventes, não têm eira nem beira, eles, a família, e os comparsas deles?

Causa-me enorme estranheza, a mim, certamente ingénuo, que sei de casos de gente que um dia afiançou ou avalizou compromissos (que não se mediam em milhões) que não foram pagos pelos afiançados, e são perseguidos há anos até ao limite da sua capacidade de sobrevivência. Sendo pública uma lista de gente colunável que cravou (ferrou o calote, esmifrou, ...) o BPN em  muitos milhões e continua pujante, colunável e intocável. 

Até a srª. Catarina Martins e o sr. Jerónimo de Sousa, que se afirmam recorrentemente "contra este sistema", mas foram capturados pela geringonça, dormem conivententemente perante tanta complacência, conivência, e falta de vergonha. 

Friday, August 19, 2016

A ANEDOTA DESTES DIAS

A Caixa continua na ordem do dia. 

Dos 19 nomes propostos pelo Governo ao BCE para a administração, o BCE vetou 8, todos indigitados como administradores não executivos, incluindo a única mulher que constava da longa lista, e recomenda que o total não ultrapasse os 15, dos quais, 3 a 6 devem ser mulheres. 
Dos 7 administradores executivos aceites pelo BCE, seis são provenientes ou passaram pelo universo BPI; a excepção, Pedro Leitão, que foi administrador da PT, que viria a cair no buracão brasileiro da Oi, está envolvido no processo judicial do caso BES-PT.
O presidente da comissão executiva poderá acumular funções de presidente do conselho de administração durante seis meses, período após o qual deverá tomar posse um presidente do CA distinto do presidente da comissão executiva. 
Três dos sete administradores executivos, devem frequentar curso de gestão bancária estratégica no INSEAD.

Porque o veto dos 8 decorre uma lei bancária que não consente a excessiva acumulação de cargos dos propostos, supondo que tanta carga horária não lhes permitiria mais que assinar as actas, ao secretário de estado do pelouro ocorreu a luminosa ideia de alterar a lei. BE e PCP já disseram que não, que a haver alteração da lei ela deve ir no sentido de uma restrição ainda maior.

Entretanto, a Comissão de Trabalhadores da Caixa deu publicamente conta da sua estranheza pelo facto de nenhum director da instituição ter sido convidado para o quadro de administradores.
É, realmente, espantoso que o BPI possa dispensar vários colaboradores para a administração da Caixa, ainda que três deles tenham de ir para a escola aprender gestão bancária estratégica, e, desses, um tenha que prestar contas à Justiça, e a Caixa, que dispõe de um efectivo de pessoal bem mais numeroso, não tenha conseguido que pelo menos um dos seus quadros superiores tenha adquirido as competências necessárias para ascender à administração. Talvez por falta de frequência do INSEAD.
Ou terão nascido todos apenas para servir.


Tuesday, August 16, 2016

FOGO NA FLORESTA

Pedro L.,

Talvez por ter nascido e vivido até à maioridade num mundo rural tenho uma perspectiva parcialmente diferente da sua.
Concordo consigo que, para ter campos e florestas cuidadas, é preciso que a exploração agrícola e silvícola seja racionalmente financeiramente apoiada. Para isso são precisos recursos e políticas redistributivas nesse sentido. E reestruturação da propriedade fundiária. 
Quem é que tem coragem para entrar nesse fogo?

Mas discordo quando afirma que "o mundo rural tem campos cuidados". 
Em Portugal?
Tem alguns, sim senhor, mas são excepções que confirmam a regra. A regra é ainda a exploração deficiente e, em muitos casos, o abandono.

Quanto à propriedade florestal, quem a quiser abordar com critério tem de começar para encarar uma realidade que está fragmentada em cerca de 360 mil propriedades. A título comparativo, os EUA, cem vezes maior, têm um número semelhante de proprietários florestais. 

Os fogos florestais ocorrem mais a sul que a norte porque as condições climatéricas - mais calor, menos humidade, mais vento - encontram enormes quantidades de combustível sob a forma de biomassa seca não retirada da floresta. E a lei é esta: se lá continua, o que não arde num ano, arderá no próximo ou nos próximos.

Enquanto subsistir uma tal fragmentação da propriedade não há condições para implementar políticas preventivas sérias. 
Li há dias no Expresso que o Governo está decidido, e o PR aprova, a entregar as propriedades abandonadas aos municípios.
Será uma fuga em frente para um desastre ainda maior.
Porque nem os municípios são competentes para gerir a floresta nem com a entrega das propriedades abandonada são criadas condições para o necessário emparcelamento racional da propriedade. 
Aliás, a relativamente reduzida (2%) parcela da propriedade florestal do Estado, não é resultado exemplo de boa gestão.    

(Diga-se, de passagem, que, em coerência, não se percebe porque não decide o Governo entregar aos municípios as propriedades urbanas abandonadas. Se a razão é o risco de incêndio, tudo arde, até as florestas de automóveis. Aliás as muitas propriedades públicas urbanas abandonadas são também outro mau exemplo da gestão pública da propriedade)

Uma exploração agrícola ou silvícola, mesmo apoiada financeiramente pela comunidade, requer dimensão crítica, e nisto não se diferencia em nada de qualquer outra actividade económica. A agricultura e a silvicultura são hoje actividades de capital intensivo e não de mão-de-obra intensiva.
A sua gestão requer conhecimento e competência.

Ainda há, lamentavelmente, muita gente a pensar que o sector primário é essencialmente para subsistência de gente não qualificada.


E AGORA, ANTÓNIO?

"A DBRS - única agência de rating entre as quatro a que o BCE recorre para avaliar a dívida pública dos países que atribui grau de investimento à dívida portuguesa – mostra-se preocupada com o fraco crescimento (+0,2%) registado pela economia portuguesa no segundo trimestre deste ano" - aqui


"As taxas de juro implícitas na dívida portuguesa voltaram a negociar acima dos 2,8%, depois de a DBRS ter deixado alguns alertas sobre a evolução da economia e o seu impacto no "rating" do país. A taxa de juro implícita na dívida de Portugal a 10 anos está a subir 12,7 pontos base para 2,819%, depois de esta manhã ter chegado a renovar o mínimo de Janeiro, ao negociar nos 2,673%." - aqui

Há uma saída que não conduz a lado algum: culpar as agências rating.
Quanto às outras, seria bom que os principais partidos se entendessem. Lamentavelmente, parece que não pode esperar-se que isso aconteça mesmo que aconteçam eleições antecipadas mais cedo do que muita gente a partir de certa altura passou a supor.

Sunday, August 14, 2016

PORTUGUÊS SUAVE*

Apontei aqui há dias a balbúrdia provocada pelas obras ditas de requalificação no eixo central de Lisboa entre o Marquês de Pombal e Entre Campos, implicando a redução de duas faixas de rodagem a favor de mais espaços ajardinados. Como é habitual em Portugal, feito o investimento e cobrados os votos por altura das eleições que se aproximam, os espaços verdes passam em pouco tempo a espaços abandonados porque no orçamento não há cabimento para a sua manutenção. 

A confusão, no entanto, não se limita ao eixo central. No Cais do Sodré, por exemplo, proliferam agora também os blocos de plástico vermelhos e brancos que são a  imagem de marca de uma cidade invadida por uma incontida vontade  camarária de obrar e não limpar, agravando os congestionamentos de trânsito.

Alguns desses ovnis chegaram e ficaram, parece que para sempre.
É o caso do espaço envolvente daquela infame Salomé que há um quarto de século exibe a quem passa na Praça do Areeiro a face decapitada de Sá Carneiro.

Sá Carneiro deveria ser merecedor de mais respeito por parte da Câmara e dos lisboetas.
Mesmo aceitando que a obra de Soares Branco é polémica mas não desprestigiante da figura do homenageado, o abandono a que está votado o espaço à sua volta seria revoltante se houvesse uma centelha de consciência cívica colectiva nos residentes e alguma ponta de vergonha nos autarcas.

Mas não acontece nada.
Para além, evidentemente, de uma permanente fuga em frente, a obrar e andar.
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A praça ( Francisco Sá Carneiro) insere-se no plano do Bairro do Areeiro, desenhado em 1938 pelo arquitecto e urbanista João Faria da Costa, ficando o projecto dos edifícios da praça a cargo do arq. Luís Cristino da Silva. A praça é unanimemente considerada um dos marcos do denominado Português Suave." - c/p aqui



Friday, August 12, 2016

PORTUGAL AO NATURAL*

Fogos florestais são normais.

O que não devia ser normal é a enormíssima área atingida todos os anos. Anos há em que a calamidade extravasa tudo o que seria esperável num país em que o verão é quente e seco e os ventos sopram com a intensidade que as amplitudes térmicas obrigam.

Quanto aos factores naturais não podemos fazer nada.

Podemos, mas não fazemos, reduzir a biomassa acumulada. Que se não arde este ano, arderá para o ano. Fatalmente.
Reduzir o combustível deveria ser o objectivo a atingir. Para isso, no entanto, seria necessário reformular a propriedade florestal.
Que está distribuída por cerca de 360 000 parcelas, mais ou menos tantas quantas existem em todos os EUA.

Mas nenhum partido quer meter-se nesse "fogo" ...
Falta competência, conhecimento e muita coragem.
Coisa que não abunda por cá, infelizmente. 

Digo isto no meu bloco de notas há quase doze anos.
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* Comentário colocado aqui.

Thursday, August 11, 2016

BISPO DE COROA AMARELA






Fotos (de cima e de baixo)
de Pedro Fonseca
tiradas
aqui.






"A plumagem muito garrida do bispo-de-coroa-amarela pode deixar estupefacto qualquer observador que nunca se tenha cruzado com uma ave desta espécie. Trata-se, contudo de uma espécie de origem africana, que terá sido introduzida no nosso país no final da década de 1980, não sendo por isso de estranhar que não figure em muitos guias de campo..." - c/p aqui

Obs. - A foto do meio foi copiada da net (aqui)

Sunday, August 07, 2016

UM CONSELHEIRO ÀS DIREITAS

O sr. Paulo Portas, ex-vice Primeiro-Ministro, terá assinado recentemente contrato de "conselheiro" de uma petrolífera mexicana, se for verdade o que se lê aqui.
Da sua carteira de "aconselhados" já constava, pelo menos, a Mota Engil. Que em tempos foi aconselhada, entre outros, pelo sr. Jorge Coelho.
A lista, às esquerdas e às direitas, de "conselheiros" é longa e a internacionalização auspiciosa. 

Nenhum destes aconselhamentos, contudo, consegue, ou conseguiu, o impacto mediático do contrato subscrito recentemente pelo sr. José Manuel Durão Barroso. Que, salvaguardadas as supostas diferenças, fica, ainda assim, a léguas do impacto provocado pelos contratos atribuídos ao sr. José Sócrates. 

Uma diferença notória, se existir, estará no momento da assinatura: EF (em funções) e DP (depois de funções).

Friday, August 05, 2016

NOTÍCIA DO DIA

É notícia o homem morder no cão, não o contrário.
Se, como ouço ou leio por aí, é normal os políticos ou entidades de nomeação política aceitarem brindes de empresas privadas, isto é notícia:

"Três responsáveis de peso na energia foram convidados para o Euro 2016, mas disseram que não. A Galp sublinha que os convites foram feitos com o objectivo de "fomentar o espírito de união em torno da selecção". - aqui

Pelo contrário, todo o chinfrim feito à volta da oferta de facilidades oferecidas pela Galp não é notícia, é chacota. 

Tuesday, August 02, 2016

PORQUE PODERÁ SER UMA PENA

Senhor Presidente dos Parques de Sintra, 

Visitámos hoje, mais uma vez, o Palácio da Pena. 
Constatámos, com satisfação, que a afluência de visitantes, mesmo em dias de semana, é notável.

Notável também, mas no pior sentido, é a continuação da exibição de tomadas e fios eléctricos em condições que nos fazem recear uma elevada  probabilidade de poder ocorrer um curto circuito destruidor do magnífico palácio.

Estou certo que, escrevendo isto, não estou a dar alguma novidade a alguém que seja responsável pela segurança do Palácio da Pena, mas impõe-me a minha consciência cívica não ver e calar uma enorme ameaça que me parece que pode e já deveria ter sido removida há muito tempo.

Não é, certamente, por carência de receitas cobradas nas bilheteiras que a instalação eléctrica do Palácio exibe um aspecto nada condigno, e, mais que indigno, extremamente perigoso.

Atentamente










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Resposta recebida ontem

Exmo. Sr. Rui Fonseca,

Começamos por agradecer o registo das suas impressões relativamente à visita que efetuou ao Palácio Nacional da Pena. As críticas e sugestões dos nossos visitantes merecem a nossa melhor atenção e respeito, contribuindo para a aferição da qualidade dos nossos serviços e para a sua otimização.

Relativamente às tomadas e fios elétricos que refere, a Parques de Sintra reconhece que se trata de uma situação que pode ser visualmente incómoda. No entanto, cumpre-nos esclarecer que isto não constitui qualquer risco para o edifício, para o acervo ou para os visitantes, resultando de um processo de atualização necessário das estruturas elétricas antigas, cujas condições comportavam já potenciais riscos. Neste sentido, as tomadas e fios que menciona têm precisamente o objetivo de proporcionar maior segurança durante as intervenções de requalificação, entre as quais a de beneficiação da instalação elétrica, tendo sido acauteladas todas as proteções necessárias para evitar situações de risco.

Não sendo possível encerrar o Palácio no decurso destas obras, que obrigam ao levantamento de pavimentos e abertura de troços parciais nas paredes, os trabalhos têm vindo a ser feitos de forma faseada, para que os visitantes possam continuar a disfrutar do património da melhor forma possível.

A instalação elétrica visível que referiu será removida após a conclusão das obras de beneficiação e do restauro integral de todas as salas do circuito de visita, pelo que apelamos à compreensão dos visitantes.

Resta-nos lamentar não ter podido corresponder às suas expectativas, mas esperamos ter contribuído para uma melhor compreensão das razões que levaram ao registo das suas impressões.
    
Estamos sempre disponíveis para qualquer esclarecimento solicitado. 

Monday, August 01, 2016

CHUTAR PARA CANTO EM AGOSTO

Ouço no noticiário das três da tarde que o Banco de Portugal divulgou hoje que a dívida pública voltou a aumentar, situando-se no final do primeiro trimestre deste ano em 240 mil milhões de euros, aumentando pelo quarto mês consecutivo.
E, logo a seguir, o ministro da Economia a desvalorizar o aumento em termos nominais porque, disse ele, o mais importante é a relação entre a dívida e o PIB. 
E disse mais (cito por memória):

"Estamos a trabalhar nos dois lados da equação, promovendo o crescimento para reduzir a dívida, com aumento de investimento. É público que a Fosun* está interessada numa participação relevante no capital do BCP e que o Banco Haitong** está interessado no Novo Banco. O interesse de investidores estrangeiros é uma prova de confiança no futuro do nosso país."- cf. aqui

Pelas minhas contas, a relação entre a dívida e o PIB no final de Junho, deve ter-se situado em 131%.
Em Novembro de 2012, a previsão da trajectória da dívida revista em baixa no sexto exame regular da troica (vd. quadro abaixo - clique para ampliar) apontava para 115,8%. 
Aconteceu há menos de três anos, de nada nos valeu este tipo de investimento financeiro estrangeiro que confiou no nosso país.



"No final do primeiro semestre de 2016, a dívida pública situou-se em 240,0 mil milhões de euros (Gráfico 1), aumentando 2,4 mil milhões de euros relativamente a maio (Gráfico 2). Esta variação no mês de junho reflete principalmente emissões líquidas positivas de títulos (2,0 mil milhões de euros). O crescimento da dívida pública foi acompanhado por uma redução dos ativos em depósitos (0,3 mil milhões de euros), pelo que a dívida pública líquida de depósitos da administração central registou um aumento de 2,8 mil milhões de euros em relação ao mês anterior, ascendendo a 222,0 mil milhões de euros no final do primeiro semestre de 2016." - aqui


Por outro lado, a dívida privada - cf. aqui - ainda que subsistindo a níveis relativamente muito elevados vinha apresentando uma trajectória discretamente descendente. 
Soube-se recentemente, no entanto, - vd. aqui - que a poupança das famílias foi negativa no primeiro trimestre deste ano, uma situação inédita nos, pelo menos, últimos 17 anos. Na origem desta inversão estará o crescimento do consumo e a compra de automóveis. 
Sem os reflexos no crescimento da economia esperados pelo senhor ministro da Economia e companhia.  
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Correl. - (10/08) - Dívida Pública deve ter-se situado entre 131 e 132% do PIB no fim de Junho - aqui